A exoneração do diretor-geral da Polícia Federal Maurício Valeixo, publicada no Diário Oficial da União na manhã desta sexta-feira (24) revela que o presidente Jair Bolsonaro perdeu o pudor quanto à sua real intenção de interferir no trabalho da instituição que ganhou admiração dos brasileiros pelo rigor na apuração e combate aos escândalos de corrupção. A escolha de Sergio Moro para o Ministério da Justiça - reforçando a composição de um ministério técnico, sem escolhas partidárias - fez criar nos brasileiros a falsa impressão de que o novo governo estaria comprometido com a bandeira do combate ao crime organizado e às negociatas políticas que por ano sangraram (e ainda sangram) os cofres públicos de diferentes estatais.
A canetada publicada nesta sexta-feira, porém, não deixa dúvidas. Bolsonaro não só quis, como interferiu abertamente no comando da Polícia Federal, ainda que o ex-juiz da Lava-Jato tenha tentado, de todo jeito, reverter a intenção do próprio chefe.
Moro foi chamado ontem por Bolsonaro e avisado sobre a determinação do presidente quanto à troca de Valeixo. O chefe do Poder Executivo estava disposto a demitir o diretor-geral da PF. Incomodado, Moro tentou fazer o que pôde. Fez circular a informação sobre a troca e o noticiário quase que exclusivamente dedicado à pandemia de coronavírus deu lugar às revelações de bastidores sobre a mudança que estava prestes a acontecer. A ameaça do Ministro da Justiça de se demitir, caso o presidente concretizasse a demissão de Valeixo, ecoou pelos corredores de Brasília. Bombeiros, no entanto, foram chamados para apagar a crise e Moro teria aceitado ficar. Permanecerá assim? É cedo para dizer.
Em tempos estranhos, como diria o ministro do STF Marco Aurélio Mello, em que pessoas aplaudem manifestações a favor de um regime que assassinou e fez desaparecer centenas de brasileiros, é difícil prever como se comportará a população diante da arbitrária intervenção do presidente neste episódio. O fato é que a canetada de Bolsonaro dá sinais de que não há economia de esforços quanto à intenção de interferir na condução do trabalho da Polícia Federal. As investigações também sofrerão mudanças? A abertura de inquéritos passará pelo crivo do presidente? Alguma coisa parece fora da ordem. Tem que ver isto daí. Tá OK?