Como era de se esperar, o último debate realizado entre os candidatos à prefeitura de Porto Alegre, realizado pela Rádio Gaúcha e por GZH, teve enfrentamentos duros entre os participantes. Por causa da pandemia, o formato foi drive-in: cada candidato ficou dentro do seu carro e permaneceu acompanhado de um integrante da sua equipe. A mediação foi do jornalista Daniel Scola.
O primeiro ponto a ser destacado — ainda que repetitivo — é a realização do debate em si. Isto porque as restrições impostas pela pandemia diminuíram as oportunidades de confronto de ideias entre os postulantes ao Paço Municipal. Aqui e em todo o país.
Em tempos que autoridades flertam com arbítrio, é necessário reafirmar o apreço pela democracia e a eleição municipal é um elemento importantíssimo neste processo.
Mas o melhor momento do debate — e aqui esqueça paixões partidárias — foi promovido, na minha leitura, pelo atual prefeito e candidato à reeleição Nelson Marchezan (PSDB). Ele escolheu questionar Manuela D'Ávila (PCdoB), adversária com posições absolutamente antagônicas às dele quanto ao melhor modelo de Estado para atender aos cidadãos.
Marchezan defendeu que a gestão das Unidades Básicas de Saúde (e do sistema como um todo) é mais eficaz quando compartilhada com a iniciativa privada. Usou exemplos da sua gestão. Manuela, por sua vez, reforçou seu entendimento de que o serviço precisa, na visão dela, ser realizado exclusivamente por agentes públicos. Ainda que tenha havido tom ríspido (e por vezes provocativo) de ambos, não houve ofensa pessoal ou agressão gratuita. O que ocorreu foi um debate de ideias entre dois candidatos. Tal como a democracia prevê.
O debate pode parecer, para algum desavisado, mas não é e nem deve ser programa de auditório em que a plateia levanta um pom-pom a cada momento alegre ou aguarda aviõezinhos com notas de dinheiro. A eleição é coisa séria e, como tal, precisa ser acompanhada de posturas condizentes com o cargo o qual os candidatos pretendem ocupar.
De ponto negativo — e eu adicionaria o predicado péssimo, vergonhoso — restou a postura de um candidato despreparado, que se diz defensor dos animais, mas não consegue respeitar uma mulher. Em cada vez que era chamado a participar, conforme as regras, ele fazia referência à adversária, com quem já teve um relacionamento. Insinuando esta proximidade pessoal, ameaçou narrar fatos que seriam expostos ao público, em um movimento que não pode ser classificado como outra coisa que não "violência psicológica". Chegou a citar o nome da filha da candidata, uma criança de apenas cinco anos de idade. Não bastasse o comportamento reprovável, terminou cantando He-Man.
Convém separar as duas atitudes, aliás. A última é ridícula. A primeira é muito séria.
Diferente do que muitos pensam, ao dizer que é caso de "terapia", acrescento que este é um comportamento muito próximo à esfera policial. Os relacionamentos abusivos que infelizmente terminam - com frequência - em feminicídios começam com ameaças psicológicas e agressões verbais. O machismo mata. Não podemos tolerar.