Formada em Nutrição em março deste ano, Luiza Vitória Bica Gonçalves, de 22 anos, sonhava em ter o próprio consultório e se preparava para uma nova fase da vida quando teve seus planos interrompidos no começo da noite dessa quarta-feira (6). Estava na frente de casa, no bairro Alto Petrópolis, em Porto Alegre, quando foi morta a facadas. O principal suspeito do crime é o ex-namorado, de 35 anos, de quem havia se separado há 10 dias.
À frente da investigação, a titular da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam), delegada Tatiana Bastos, afirma que Luiza estava conversando com amigos quando o ex chegou. Eles discutiram e ela foi agredida. A jovem morreu no local, onde foram apreendidos uma faca e uma soqueira. A mãe e a avó, que moravam com a vítima, estavam dentro de casa quando o crime aconteceu.
— A mãe só ouviu o grito dela — conta a delegada.
O ex-namorado fugiu em um HB20, capotou na Avenida Protásio Alves, foi preso em flagrante e está hospitalizado. Nesta quinta-feira (7), passou por neurocirurgia e está estável. O nome dele não é divulgado pela Polícia Civil.
Ela não queria mais e ele insistia na manutenção do relacionamento. Era ciumento, possessivo e tinha um perfil agressivo. Vamos concluir a prova testemunhal, entender um pouco mais da dinâmica do relacionamento, analisar se há imagens que possam ter filmado o crime e aguardar os laudos periciais.
TATIANA BASTOS
Titular da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam),
— Ela não queria mais e ele insistia na manutenção do relacionamento. Era ciumento, possessivo e tinha um perfil agressivo. Vamos concluir a prova testemunhal, entender um pouco mais da dinâmica do relacionamento, analisar se há imagens que possam ter filmado o crime e aguardar os laudos periciais — diz a delegada, detalhando os próximos passos da investigação.
Luiza namorou o suspeito por cinco anos. Nesse período, se distanciou de alguns amigos e desfez o perfil no Facebook. Segundo a Polícia Civil, não havia registro de ocorrências contra ele e a vítima nunca havia pedido medida protetiva.
Filha única, vivia com a mãe, que é professora, e a avó. Perdeu o pai em 2016. Pelos amigos, é descrita como uma jovem dedicada à família, estudiosa e alto astral. Na manhã desta quinta, a mãe postou em uma rede social que a filha "era um exemplo de amor". "Luiza, agradeço a Deus por sua vida e por me amar tanto. Ela era festa em vida", postou.
— Era cheia de luz, uma pessoa maravilhosa, de sorriso largo. Seguia todas as regras que a mãe pedia. Era o orgulho da família. Ela não nos ouvia em relação a ele. O namorado era um cara muito estranho, agressivo, não respeitava ela — lembra a dona de casa Sandriane Aurich, 23 anos, amiga de Luiza há 10 anos.
A jovem não era afeita a festas e, desde criança, frequentava a Igreja Metodista da Vila Jardim. Também tentou aproximar o ex-namorado da religião.
— Dizia que ia tentar mudar ele. E por sermos da igreja, a gente acredita que a pessoa pode mudar. Na época do namoro, ela lia a bíblia com ele, pareciam motivados. Tem foto dos dois na igreja. Mas ela se afastou porque não aguentava mais a relação abusiva. Ele era muito ciumento, tinha ciúmes dela até na faculdade. E ela era bonita, chegava em um lugar e chamava atenção, era desejada e toda poderosa — afirma o assistente de logística Anthony Borckhardt, 23 anos, amigo e vizinho de Luiza desde os 10 anos.
Ela sempre foi a frente de todo mundo, decidida, muito culta. Ela era ímpar entre nós. Quando soube, não acreditei, para mim era algo impossível de imaginar. Está todo mundo apavorado, em choque. Não sei nem o que pensar.
ANTHONY BORCKHARDT
Amigo da vítima
A colação de grau ocorreu há dois meses no Centro Universitário Metodista IPA. Em nota divulgada nas redes sociais, a instituição manifestou condolências à família e disse que "se posiciona de forma veemente contra a violência de gênero e declara luto oficial por dois dias". Entre o grupo de amigos, formado desde os tempos em que estudou na Escola Estadual de Educação Básica Monsenhor Leopoldo Hoff, foi a primeira a se formar e a única a viajar para a Europa, onde visitou familiares. Falava inglês fluente e era inteligente.
— Sempre esteve à frente de todo mundo, decidida, muito culta. Ela era ímpar entre nós. Quando soube, não acreditei, para mim era algo impossível de imaginar. Está todo mundo apavorado, em choque. Não sei nem o que pensar — diz Borckhardt.
A última vez que Borckhardt viu a amiga, há poucos dias, conta que a jovem estava na rua, discutindo com o ex.
— Ela me falava que algumas brigas já eram um pouco violentas, de puxar braço, gritar.
O corpo de Luiza foi sepultado na tarde desta quinta-feira, no Cemitério Jardim da Paz, em Porto Alegre.