Das 91 mulheres mortas por questões de gênero no Rio Grande do Sul no ano passado, apenas quatro tinham medida protetiva contra o agressor. O dado consta em levantamento realizado pela Polícia Civil gaúcha.
O mapa dos feminicídios busca traçar o perfil das vítimas e dos autores, além de características do crime, para tentar ajudar a prevenir novos delitos. O material foi divulgado nesta quinta-feira (4) durante coletiva de imprensa sobre a Operação Marias, ofensiva nacional contra a violência doméstica coordenada pela Polícia Civil do RS.
Em 2019, o Estado registrou 97 casos de feminicídios, segundo a Secretaria da Segurança Pública. A análise, no entanto, excluiu seis ocorrências porque não foi possível coletar informações — tratam-se, por exemplo, de encontros de cadáveres onde as vítimas não foram identificadas ou o crime ainda está sendo investigado.
O estudo mostra, por exemplo, que 65 mulheres foram mortas na casa delas ou dos agressores. Ou seja, o local mais perigoso é a própria residência.
— Aí está a grande dificuldade da segurança. São locais que muitas vezes somente familiares têm acesso. Por outro lado, o fato de que somente quatro tinham protetiva nos levar a crer que a medida funciona e que inibe de certa forma o agressor — afirma chefe da Polícia Civil, delegada Nadine Anflor.
A área urbana concentra 82% dos assassinatos de mulheres em contexto de gênero. O meio usada na maioria dos delitos foi arma branca (33 casos), como facas, e em segundo lugar as armas de fogo (32 mortes). Mais da metade dos crimes aconteceu entre sábado e segunda-feira, período considerado mais crítico para ocorrências de violência doméstica.
Características
Sobre o perfil das mulheres mortas, o estudo aponta que a maioria havia cursado somente o ensino fundamental, e que predominantemente eram brancas e jovens. Das 91 vítimas, 54% tinham até 40 anos.
Quando se analisa o perfil dos agressores, ele é semelhante: a maioria cursou até o ensino fundamental, é jovem e branco. Ainda em relação aos homens, a análise mostra que 19 deles cometeram suicídio após matarem as companheiras e 52 foram presos.
— A violência doméstica não é um caso só de polícia. É preciso identificar o contexto que envolve esses crimes. Um dos pontos que nos chamou a atenção é que a maioria não tinha curso superior (somente cinco vítimas). Precisamos começar a trabalhar com o que aconteceu no passado para evitar novos casos. Por isso, é tão importante a identificação do autor e da vítima, traçar esses perfis — avalia a delegada Nadine.
Nadine alerta ainda para a necessidade de quem está próximo de uma mulher, que pode estar sofrendo violência doméstica, estar atento para essas características. Muitas vítimas não conseguem sair do ciclo violento sem o apoio de outras pessoas.
— O chamamento das polícias é também para a sociedade. O que nós, como sociedade, estamos fazendo para combater a violência? Esse perfil serve para que você veja quem é a pessoa que está do teu lado. Se não existe alguém com essas características, que esteja vivendo uma violência. Para que dê apoio — explica.
Veja alguns dados do levantamento*:
Saiba onde vítimas de violência doméstica podem pedir ajuda:
Brigada Militar
Telefone: 190
Horário: 24 horas
Polícia Civil
Endereço: Delegacia da Mulher de Porto Alegre (Rua Professor Freitas e Castro, junto ao Palácio da Polícia), bairro Azenha. As ocorrências também podem ser registradas em outras delegacias. Há 23 DPs especializadas no Estado.
Telefone: (51) 3288-2173 - 3288-2327 - 3288-2172 ou 197 (emergências)
Horário: 24 horas
Defensoria Pública
Endereço: Unidade Central de Atendimento e Ajuizamento (Rua Sete de Setembro, 666), ou Centro de Referência em Direitos Humanos (Rua Siqueira Campos, 731), ambos no Centro Histórico.
Telefone: (51) 3225-0777 ou pelo Disque Acolhimento 0800 644 5556
Horário: segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 13h às 18h (nos meses de janeiro e fevereiro, o atendimento nas segundas-feiras é das 12h às 19h e, nas sextas-feiras, das 8h às 15h)
Ministério Público
Endereço: Promotoria Especializada de Combate à Violência Doméstica e Familiar - no Instituto de Previdência do Estado (IPE) do RS, na Avenida Borges de Medeiros, 1.945
Telefone: 51-3295-9782 ou 3295-9700.
Horário: 12h às 19h de segunda à quinta-feira e sexta-feira das 8h às 15h. Após o Carnaval, atendimento é das 8h30min ao meio-dia e das 13h30min às 18h
Judiciário
Juizado Especial da Violência Doméstica e Familiar (Rua Márcio Luiz Veras Vidor, 10), Sala 511 ou 512
Telefone: (51) 3210-6500
Horário: de segunda-feira à sexta-feira das 9h às 18h
Centro de Referência Vânia Araújo Machado
Endereço: Travessa Tuyuty, 10 - Loja 4 - Centro Histórico, Porto Alegre - RS
Horário: de segunda a sexta-feira, das 8h30min às 18h
Telefone: (51) 3252-8800 ou 3286-7375
Escuta Lilás
Telefone: 0800-541-0803
Horário: de segunda a sexta-feira, das 8h30min às 18h.
Disque-Denúncia
Telefone: 180
Horário: 24 horas
Centro de Referência Márcia Calixto
Endereço: Rua dos Andradas, 1643, sala 301
Telefone: (51) 3289-5110
Horário: de segunda a sexta-feira, das 8h30min às 12h, e das 13h30min às 18h.
Procuradoria Especial da Mulher da Câmara de Vereadores
Endereço: Avenida Loureiro da Silva, 255 - Centro Histórico/ 3º andar, Sala 328
Telefone: (51) 3220-4358 - 3220 4302
Horário: de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 13h30min às 18h
Casa de Referência da Mulher - Mulheres Mirabal
Endereço: Rua Souza Reis, 132, bairro São João.
Telefone: (51) 3407-6032 (para doações como roupas, alimentos, até móveis para casa) e para acolhimentos e abrigamento entrar em contato pelo 51 9108-0562 ou pelo e-mail mulheresmirabal@gmail.com
ONG Themis
Mantém unidades de Serviço de Informação à Mulher (SIM) em quatro bairros de Porto Alegre:
Eixo Baltazar
Endereço: Rua Baltazar de Oliveira Garcia, 2.132, sala 657 e 658
Horário: terça e sexta-feira, das 9h até as 17h
Lomba do Pinheiro
Endereço: Estrada João de Oliveira Remião, 4.444 (Paróquia Santa Clara)
Horário: segunda-feira (quinzenal) das 13h30 até as 17h30
Restinga
Endereço: Rua Engenheiro Oscar Oliveira Ramos, 1411
Horário: segunda-feira, das 9h até as 17h
Cruzeiro
Ainda não tem sede, mas realiza ações itinerantes