Responsável por intermediar o contato entre o jornalista Glenn Greenwald, um dos fundadores do Intercept, e o hacker que invadiu o celular de uma série de autoridades brasileiras, a ex-deputada federal Manuela D'Ávila (PCdoB-RS) foi entrevistada no Timeline, da Rádio Gaúcha, na manhã desta segunda-feira (2). Na última quarta-feira (28), Manuela prestou depoimento à Polícia Federal sobre o episódio e também entregou seu celular para perícia dos dados que já haviam sido fornecidos por ela aos investigadores.
O nome de Manuela foi citado pelo hacker Walter Delgatti Neto durante depoimento à PF em julho. Na ocasião, ele afirmou que teve acesso ao telefone do jornalista por meio da ex-deputada. Delgatti é apontado como principal suspeito pelas invasões do aplicativo Telegram dos celulares do atual ministro da Justiça e ex-juiz federal Sergio Moro e do coordenador da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol.
— Entreguei meu celular para perícia na Polícia Federal e espero que todos façam o mesmo que eu. Acho que é assim que todos podemos esclarecer tudo isso. Não pedi para ser envolvida nisso tudo. Eu estava num almoço de domingo na minha casa (quando teve o celular invadido e foi contatada pelo hacker). Eu, como jornalista, passei para aquele que acho o melhor jornalista investigativo do país (Glenn Greenwald). Acho que consegui pensar muito rapidamente numa saída durante um dilema brutal. Foi um mês muito difícil — afirmou.
Manuela afirmou não ter tido curiosidade sobre o inteiro teor do conteúdo ao qual o hacker teve acesso nem sobre saber quem era a pessoa que lhe havia ofertado informações sobre crimes cometidos por autoridades. Ela conta ter procurado seus advogados na ocasião e também confessou ter imaginado que pudesse se tratar de uma ação orquestrada contra ela. Um mês se passou desde que o invasor a procurou (maio de 2019) até o dia da publicação das reportagens pelo Intercept (9 de junho). Nesse período, Manuela afirma ter temido pela própria vida.
— Durante esse mês, desde o contato do Glenn e do hacker (até a publicação da primeira reportagem pelo Intercept), esse foi o mês quando mais temi pela minha vida, em 15 anos de vida pública. Eu não sabia que tipo de crime era. Por isso mesmo, o receio. Ele me disse que tem um número gigantesco, eram "teras"(Terabyte equivale a 1000 Gigabyte) de documentos. Eu não tinha ideia de quem eram os atores envolvidos. Eu só sabia que eram crimes de autoridades do Estado brasileiro — afirmou.