A ex-deputada federal Manuela D'Ávila (PCdoB) virou alvo de um pedido de esclarecimentos, na Câmara dos Deputados, sobre como ela teria intermediado o contato entre o jornalista Glenn Greenwald, um dos fundadores do portal Intercept, e hackers que tiveram acesso a celulares de diversas autoridades, incluindo o ex-juiz federal e hoje ministro da Justiça, Sergio Moro, e o coordenador da força-tarefa da Operação Lava-Jato, Deltan Dallagnol. O convite foi votado e aprovado nesta terça-feira (13), na Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado. Agora, fica a critério da ex-deputada a escolha de uma data para ir à comissão.
A coluna conversou com o autor do pedido de explicações direcionado a Manuela, o deputado federal Capitão Augusto, do PL. Segundo ele, datas serão apresentadas a ex-deputada e ela escolherá qual destas fica mais adequada. Ele justifica a necessidade de esclarecimentos:
— Para que ela dê explicações, sobre qual é o relacionamento, qual o vínculo que ela tem com Glenn Greenwald, tendo em vista que os hackers já foram presos e existe uma suspeita muito grande de que tenha gente por trás, que pagou para eles hackearem telefones das autoridades. Então, a gente quer que ela venha aqui dar essas explicações já que ela intermediou o contato dos hackeadores e Glenn — afirmou o parlamentar.
O PCdoB, partido da deputada, comemorou a decisão.
— Não me passou pela cabeça que esta comissão gostaria de ouvir nossa ex-deputada Manuela D’Ávila. É extraordinário. Esse é mais um requerimento do tipo Glenn, que a gente gosta que venha. Inclusive foi muito interessante a vinda dele à Casa. Aliás, acho que será tão boa a vinda da deputada Manuela que já temos outros parlamentares querendo convidá-la. Vale lembrar que Manuela, a única a não ser investigada, também foi a única a colocar seu telefone à disposição da polícia. Ninguém mais teve coragem de fazer isso — disse a deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC), que afirmou estar "enciumada" com a iniciativa.
No Twitter, Manuela afirmou que "vai amar" falar sobre os "crimes cometidos pelo Estado brasileiro", e recebeu apoio do próprio Glenn Greenwald.
Contato
No final de julho, Walter Delgatti, o Vermelho - preso como o principal suspeito de hackear celulares de autoridades - disse em depoimento à Polícia Federal que não recebeu dinheiro para entregar informações ao editor do site The Intercept Brasil, Glenn Greenwald. Também afirmou que teve acesso ao telefone do jornalista por meio da ex-deputada federal Manuela d’Ávila(PCdoB-RS), cujo contato ele conseguiu após acessar outros celulares. As informações foram reveladas pela reportagem da TV Globo News, que teve acesso ao depoimento, mantido em sigilo pela Polícia Federal.
Na ocasião, Manuela afirmou por meio de nota divulgada em rede social, que passou o contato do jornalista Glenn Greenwald a um suposto hacker em maio deste ano. A declaração foi dada após a divulgação do depoimento de Walter Delgatti Neto, o Vermelho, preso como o principal suspeito de hackear celulares de autoridades.