A discussão sobre as leis de incentivo à cultura no Brasil – entre elas, a polêmica Lei Rouanet –, a partir de mudanças promovidas pelo governo do presidente Jair Bolsonaro, voltaram à tona após o desempenho histórico alcançado pelo Brasil no Festival de Cannes, em 2019.
O cearense Karim Aïnouz venceu a mostra Um Certo Olhar no festival com A Vida Invisível de Eurídice Gusmão e conversou com a coluna no domingo (26). O diretor vibrou com o também histórico Prêmio do Júri conquistado pelo brasileiro Kleber Mendonça Filho, com Bacurau.
Para Karim, as vitórias na França reforçam a ideia de que as políticas de incentivo à cultura adotadas nos últimos 15 anos – ele menciona os governos Lula e Dilma (PT) – são ações que "estão dando frutos" e que esses frutos "não são pequenos".
— O que a gente viveu em Cannes esse fim de semana é histórico e vai ficar para o Brasil. Então eu acho que qualquer tipo de contestação às políticas de incentivo ao audiovisual, à importância da cultura, à importância da produção artística no Brasil, isso tem que parar — reforçou.
Karim fez questão de ressaltar à coluna a importância do prêmio para a formação de uma nova geração de profissionais do cinema brasileiro.
— Esse reconhecimento vai também estimular que uma nova geração possa fazer cinema, fazer cultura. Eu acho que tudo isso (dois prêmios para o Brasil em Cannes) não aconteceu em dois dias, mas foi construído durante, pelo menos, os últimos 15 anos. O Brasil está na capa dos jornais do mundo inteiro hoje e não é por uma coisa triste — ressaltou.
O diretor foi além e, a respeito dos questionamentos feitos por apoiadores do presidente Bolsonaro sobre a importância de investimentos em cultura e até mesmo às revisões aplicadas à Lei Rouanet, ele disse esperar que haja um impacto positivo, a partir do desempenho histórico do cinema nacional no Festival de Cannes em 2019.
— O tempo, a perseverança e a permanência das políticas de apoio ao audiovisual e à cultura provaram que elas são absolutamente necessárias. Eu acho que se (o governo) tivesse um mínimo de dignidade, elas teriam que continuar. E acho que isso tem que ser minimamente respeitado. E se ainda houver alguma dúvida sobre se as políticas atuais tem que ser mantidas, essas dúvidas precisam ser sanadas imediatamente. É quase como se o Brasil tivesse ganhado a Copa do Mundo e você trocasse o técnico. Seria, no mínimo, autodestrutivo com o país — avaliou.