O que falta ao mundo é elegância. Não estou falando de roupas caras - “de marca”, como se diz lá no Interior - e, muito menos, dos luxos, exageros e extravagâncias bizarras que povoam as redes sociais como se fossem ideais de vida. Nada mais deselegante. Não, não se trata de dinheiro nem de ostentação.
Elegância - a verdadeira - não se compra.
Em entrevista a Tatá Werneck, o ator Tony Ramos definiu o conceito em três palavras: respeitar o próximo.
— As pessoas confundem elegância com a melhor roupa a ser vestida. Não, elegância é na alma — ensinou o veterano dos palcos, conhecido, justamente, pela delicadeza que dispensa a colegas e fãs.
Muito antes dessa entrevista e da explosão de agressividade e fúria na era das relações mediadas pelas telas, a jornalista Celia Ribeiro já apontava para o mesmo caminho. Impossível, aliás, escrever sobre esse tema sem lembrar dela.
Recordo de Celia caminhando pela redação de ZH, com a bolsa no ombro, atendendo quem quer fosse, sempre gentil e pronta a ajudar. Era a fineza em pessoa.
Celia decidiu se aposentar em 2016, aos 86 anos, após seis décadas de jornalismo e milhares de páginas escritas. Seu livro Etiqueta na Prática foi um fenômeno de vendas. Ivan Pinheiro Machado, da editora L&PM, costuma dizer que ela “tirou a frescura" das velhas e mofadas regras de boas maneiras, transformando algo que servia apenas para diferenciar classes sociais em uma coisa completamente diferente. O foco era o bom convívio.
Celia dizia que o mais importante, sempre, deveria ser se colocar no lugar do outro. No fim das contas, essa é a essência. E o mais interessante de tudo: mesmo quando falava dos tais “bons modos”, ela nunca usou uma linguagem arrogante ou impositiva. Jamais.
— Elegância é também ser educado, socialmente agradável, mesmo sendo tímido, como é o caso do Luis Fernando Verissimo. Já a maior deselegância possível é a ostentação. Não existe nada mais deselegante do que ser deslumbrado — disse a jornalista, em uma conversa descontraída e franca com Claudia Laitano e Alice Urbim, publicada no caderno Donna à época de sua aposentadoria.
E é isso mesmo: ser elegante é ter a humildade de se olhar no espelho e incluir o outro no reflexo, o que, no fundo, só melhora a imagem de quem opta por esse modo de vida. É saber estender a mão e ter a capacidade de alteridade, reconhecendo que existem diferenças, sim, mas que a convivência é possível com respeito e empatia.
Curioso como algo tão óbvio possa estar tão fora de moda. A falta de diálogo, as críticas acintosas (geralmente tecidas no anonimato da internet), os arroubos de egolatria, a torcida do “quanto pior, melhor”, a polarização radical, tudo isso vai minando as relações e tornando cada vez mais difícil a vida em sociedade.
Chegamos ao que parece ser mais uma encruzilhada entre civilidade e barbárie, em tempos de “desinteligência real”, como diz Celso Loureiro Chaves. Não sei você, mas eu quero estar do lado de Celia, o lado da elegância.