Os alertas estão aí para quem quiser ver e são cada vez mais impactantes, da montanha de imundícies no Rio Gravataí à descoberta de rochas de plástico no Espírito Santo. Nas nossas praias, basta caminhar pela areia para encontrar todo tipo de entulho à beira-mar, como mostra o ensaio fotográfico captado pelas lentes da talentosa Camila Hermes, fotojornalista de GZH (veja as imagens acima e a galeria ao final do texto).
Incomodada com a sujeira, Camila fez um inventário dos detritos que nós mesmos produzimos e deixamos para trás. São imagens do litoral gaúcho, mas poderiam se de qualquer lugar. O lixo tornou-se um imenso problema entre nós.
Poderia ser a solução.
A cerca de 10 mil quilômetros de distância daqui, na Suécia, resíduos garantem eletricidade e aquecimento a residências e biocombustível aos ônibus. Pasme: lá, desde 2011, menos de 1% das sobras domésticas acabam em aterros. Ou seja: quase tudo é reciclado e reutilizado em benefício da sociedade e do meio ambiente.
O lixo virou algo tão importante que o país chegou a importar o refugo de nações vizinhas. Dá para acreditar? É o melhor e mais bem acabado exemplo do “Trash to Treasure”, a capacidade de transformar algo desprezível em um verdadeiro tesouro.
A incrível experiência nórdica é resultado de pesados investimentos públicos, de leis eficazes, de altos impostos (sim) e de amplas e perenes campanhas de educação, que começam nas creches e pré-escolas. Lá, o cidadão compreende desde cedo por que é preciso separar o lixo e o que isso significa na prática.
Há, também, uma série de incentivos para que cada um faça a sua parte. Por exemplo: se você comprar uma garrafa de água no supermercado, receberá dinheiro de volta assim que levar o resíduo (após o consumo) até uma das milhares de máquinas coletoras automáticas espalhadas pelo país. Há também grandes estruturas montadas especialmente para receber objetos descartados, que funcionam sem burocracia.
Muitas das práticas adotadas pelos suecos são replicadas em outros lugares, inclusive no Brasil. Mas ainda há muito o que avançar.
Está na hora de nos darmos conta de que “jogar fora” não existe. Tudo é “dentro”. Afinal, vivemos todos no mesmo planeta Terra.
Perdas ambientais e também econômicas
Para quem acha que falar sobre a destinação correta do lixo é "coisa de ecochato", é bom lembrar que o problema também tem um lado econômico. Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelp), em 2019, o país perde cerca de R$ 14 bilhões por ano ao enviar para lixões ou aterros sanitários resíduos que poderiam - e deveriam - ser reciclados e não são.
Por ano, conforme a Abrelp, o Brasil gera cerca de 80 milhões de toneladas de lixo, mas a estimativa é de que apenas 4% são reciclados.