Conversar com Carla Saueressig é como visitar um requintado salão inglês ou uma concorrida casa de infusões na Índia e ter uma aula sobre as maravilhas da Camellia sinensis* - com uma xícara fumegante a tiracolo, é claro. Gaúcha de Sapiranga, Carla é uma das mais respeitadas sommelières de chá do Brasil. É, também, uma das propagadoras de algo curiosamente pouco falado por aqui: o potencial das folhas da erva-mate para além das cuias.
À frente da Associação Brasileira de Chá (ABChá), a especialista dedica-se há três décadas ao tema. Teve lojas precursoras em Porto Alegre e São Paulo, perdeu as contas de quantos cursos ministrou no país e no exterior, ajudou a compor cardápios e harmonizações em restaurantes estrelados e percorreu o mundo em busca de conhecimento.
Para compreender a fundo a bebida ancestral, conheceu grandes plantações na Ásia (veja a foto), esteve no Museu Nacional do Chá, em Hangzhou, na China, e se perdeu no tradicional mercado de Xangai. Carla é uma mulher do mundo, mas com os pés fincados no RS.
Enquanto prepara a programação do Dia Mundial do Chá - que terá uma série de entrevistas, no próximo sábado (21), com experts globais (acompanhe em @abchaoficial, no Instagram) -, ela anda obcecada com a matéria-prima do chimarrão.
— Quando morei na Alemanha, vi que as pessoas faziam blends com erva-mate pura-folha vinda da Argentina. Na hora, pensei: temos de fazer isso no Brasil também, afinal, somos os maiores produtores do mundo — conta Carla.
Desde então, a moradora de Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo, vem ajudando a difundir a erva como chá (de altíssima qualidade, diga-se de passagem), a organizar caravanas ao interior do Estado (com gente de todos os cantos), e a aprofundar as pesquisas na área.
— A ideia não é deixar a cuia de lado, mas incorporar novos usos. O chá de erva-mate é um negócio sensacional. EUA, Europa, China e Japão já estão importando o produto. Temos de aproveitar essa onda — defende a especialista.
* Camellia sinensis é uma espécie vegetal nativa da Ásia, usada na produção do chá. Dela derivam os chás branco, verde, preto, oolong e pu ehr, muito tradicionais na China.
Análise sensorial
Entre dezembro de 2021 e janeiro de 2022, pesquisadores especializados em análise sensorial de alimentos e bebidas de diferentes instituições brasileiras realizaram um estudo do tipo envolvendo a Ilex Paraguariensis (foto), em parceria com o Instituto Brasileiro da Erva-Mate (Ibramate). Avaliações do tipo têm ajudado a aprofundar os conhecimentos sobre o produto e seus diferentes usos, inclusive como chá.
A árvore
Para quem não conhece, apresento na foto acima os detalhes de um pé de erva-mate. Repare na beleza dos frutos.