Em tempos de comida cara, inflação alta, fome e insegurança alimentar, esse deveria ser um tema “da moda”, mas ainda é pouco falado e mesmo conhecido por muitos de nós. As Plantas Alimentícias Não Convencionais - ou simplesmente Panc - são frutas, folhas, flores, rizomas, sementes e outras partes de vegetais que podem ser consumidas, mas que a gente às vezes nem imagina.
A sigla foi cunhada em 2008 pela nutricionista Irany Arteche, mestre em Fitotecnia pela UFRGS, a partir de estudos do biólogo Valdely Kinupp, professor do Instituto Federal de Educação do Amazonas. De lá para cá, a ideia vem ganhando novos sentidos.
— Costumo dizer que a Panc da vez é o pensamento alimentar não convencional. Chegamos a um ponto em que precisamos repensar a forma como comemos — resume Irany, que vive em Porto Alegre.
Muitos exemplares de Panc são chamados de “erva daninha” ou “inço”. Sabe aquele “matinho” ali no terreno baldio ou na fresta da calçada? Pois é. Pode ser uma PANC das mais saborosas e nutritivas, tanto quanto velhas conhecidas do nosso paladar.
Quer um exemplo? A bananeira é uma Panc, não pelo uso corriqueiro (dos frutos maduros), mas pela casca, pelos frutos verdes e pelo mangará (coração). É possível preparar ótimos pratos com esses ingredientes, aproveitando tudo, sem desperdício - como faziam nossos avós.
— Não é comida de marciano nem de ecochato. É um conhecimento ancestral, um patrimônio que se perdeu com o processo de industrialização. Passou da hora de resgatarmos isso — defende a nutricionista.
Uma dica
O livro Plantas Alimentícias Não Convencionais (Panc) no Brasil (Plantarum, 768 páginas), de Valdely Kinupp e Harri Lorenzi, é um guia completo e tem receitas ilustradas - inclusive escritas por Irany Arteche.
Em casa
Vale uma ressalva: você não precisa, necessariamente, catar Panc na rua. A maioria das espécies são de fácil plantio em casa, em vasinhos ou numa horta.
Um prato
Arbusto nativo comum em pastagens e terrenos baldios, o assa-peixe é uma Panc saborosa. As folhas jovens podem ser consumidas à milanesa ou à dorê e lembram peixinhos fritos. Não é inço, não. Vale provar.
Um drink
A pitaia-roxa (sim, também é uma Panc!) dá um belo drink, se misturada com leite de coco fresco, polpa de abacaxi, suco de limão e rum branco. No caso da pitaia-roxa, pode liquidificar tudo junto, a polpa e a casca (que também é comestível).
Panc Beer
Existe até cerveja de Panc. Uma das opções, assinada por Irany e Valdely Kinupp, leva urtiga e folha de limão-bergamota. É produzida pela Panc Beer, de São Paulo (a mesma que faz a cerveja do restaurante de Bela Gil, conhecida por incentivar uma alimentação saudável e alternativa).