Quem assiste ao documentário Plauto – Um Sopro Musical pode ter uma ideia da estatura do rapaz. Há quase 20 anos Mathias Behrends Pinto vem marcando presença na cena de Porto Alegre como violonista, líder de grupos, educador, batalhador. Mas apesar disso, ele talvez ainda não tivesse se provado a rigor. É o que faz em Torre de Reposição, seu segundo álbum, primeiro em que canta, e muito bem (o anterior, de 2017, é instrumental). Assume o nome Mathias 7 Cordas e encanta o ouvinte com 12 músicas de finíssima extração, parcerias com o letrista André Susin. Espero que não pareça exagero, nem que ele interprete mal, mas o que me vinha à mente, enquanto ouvia, era algo como uma combinação de Lupicínio Rodrigues com Paulinho da Viola. Adoro ambos.
Mathias é tradicional e atual ao mesmo tempo, o que canta não parece “do passado”. Gosto de todas as faixas, do samba-canção Armadilhas Pro Meu Coração, que abre o álbum, ao samba Coisas Raras, que o fecha, passando pela valsa Se Eu Fosse te Dizer. As letras são sobre relações amorosas não bem resolvidas. Há um ar melancólico, mas não pesado, na história toda; até um certo humor. Trecho do – veja, só – fox La Vie de Rosa: “Saiu assim, dizendo que queria ser feliz/.../ Que seu destino sempre foi ser atriz/ Que ainda ia ver ela brilhar/ Que eu tinha medo, que sempre a impedi de sonhar”. Ao lado de Mathias (violões, baixo, cavaquinho, bandolim) estão os ótimos Fernando Leitzke (piano, Rhodes) e Rafael Toledo (bateria, percussão). (Nas plataformas digitais)
A casa dos versos de Pâmela
Depois do álbum Samba às Avessas, que considerei um dos melhores de 2022, e do documentário com o mesmo título, Pâmela Amaro lança o primeiro livro, Casa de Versos. São 47 poemas-canções, como ela diz, alguns inéditos, outros já publicados em coletâneas de textos como Aquilombados e outros que já nasceram como letras de músicas. O livro ainda inclui partituras e fotos. Formada em Teatro, mestra em Educação e doutoranda em Artes Cênicas pela UFRGS, Pâmela é uma artista completa, inovadora, que a música, mais particularmente o samba, revelou na última década. Agora lendo-a em extensão, tem-se uma ideia mais precisa de seu talento e significação como pensadora da questão afro-brasileira. Tudo sublinhado por uma empatia contagiante. Sílvia Abreu assina o posfácio. (Libretos Editora, 76 páginas, R$ 48)
Uma guitarra para Manique
Em março de 2024 o acordeonista Albino Manique chegará aos 80 anos, 65 deles dedicados à música. Pois as homenagens a esta verdadeira lenda dos bailes gauchescos já começaram, e de modo surpreendente: com a sonoridade elétrica de uma guitarra, em formato instrumental e CD duplo! Vinicius Modelski Toca Albino Manique é o segundo disco solo do jovem guitarrista graduado em Música pela Universidade de Caxias do Sul e que integra o grupo de baile do cantor Sandro Coelho. Ele selecionou 20 músicas do vasto repertório de Manique, entre elas Madrugada, Baile de Candeeiro, Bombachudo, Clareando o Dia, Primavera, Bela e Atrevida. O predomínio é do vanerão, mas tem chote, rancheira, milonga, bugio. Modelski toca uma guitarra altamente rítmica, à frente de baixo, bateria e percussão. (CD R$ 24,90 em querenciadiscos.com.br)