Já se pode dizer que Egisto Dal Santo integra o seleto grupo das lendas do rock gaúcho. Tem muita história pra contar e trabalho pra mostrar. Vindo de Soledade, chegou a Porto Alegre em 1984, aos 20 anos — está por comemorar quatro décadas de carreira e sessentinha de idade. Nunca foi chegado a facilidades, sempre gostou de provocar com música fora da ordem, como se ouviu nos trajetos das bandas Colarinhos Caóticos, A Cretinice me Atrai, Elektra, e na atuação ao lado de outra lenda, Bebeco Garcia (1953-2010). Daí saíram uns 20 álbuns, mais 13 dele solo.
— Minha música nunca foi só rock — resume. — Eu gostava de Beto Guedes, de Hermeto, Gismonti, Zé Ramalho... Esse pessoal também moldou meu caráter, minha maneira de ver as coisas. E os roqueiros não entendiam bem isso, riam de mim.
Já não riem mais. Com o tempo, Egisto assumiu ainda uma vocação de liderança, como mostram os três trabalhos de 2023: o vinil coletivo Variações, produzido por ele com nomes da nova geração do rock gaúcho (registrado na coluna passada); o também vinil Paris Hotel, só músicas de Bebeco interpretadas por ele; e o CD e vinil Transe, com canções inéditas dele feitas ao longo do tempo. Essas produções resultam da associação de Egisto (e seu selo Purnada y Pranada) com o empresário Marcelo Otto, resultando na ENC Records – que, brincam eles, pode derivar em ENCrenca, ENCosto, ENCruzilhada e por aí vai. O primeiro produto da gravadora foi o relançamento em vinil do ao vivo Telas, Tramas & Trapaças, de Nei Lisboa, lançado originalmente em CD em 2015. E há muita ideia ENComendada para a continuação.
Bueno, o vinil (ótima capa) que leva o nome do antigo hotel de Rio Grande, cidade natal de Bebeco, é uma ruidosa fila de rocks e blues do cara cantados a plenos pulmões com baixo, teclados, guitarras a mil, bateria. Entre os músicos, Gabriel Guedes, Gambona, Cristiano Bertolucci e Paulo Arcari, as vozes de Luciana Pestano e Marietti Fialho. Já o álbum solo de Egisto é bem diferente. Predominam canções sobre relacionamentos amorosos, voz suave sobre arranjos leves e inspirados. A essência pop se abre para o soul e o sulino zamba, algum ar de jazz, um rockabilly meio Dylan. Entre as boas surpresas, até “letra” de... Camões!
Dois dos convidados já se foram, Luiz Carlos Borges e Luís Vagner. Mas tem Maria Luiza Benitez, Tonho Crocco, Pedro Tagliani, De Santana, Bebeto Mohr, Vini Tonello, James Liberato, Max Sudbrack e mais. Um grande disco.
Os dois estão à venda na Toca do Disco, em Porto Alegre, fone (51) 3311-4551.
Xande Canta Caetano
Viralizou recentemente nas redes um vídeo caseiro de Caetano Veloso emocionado ao ouvir a gravação de sua música Gente por Xande de Pilares. Não sei quantas audições tem o álbum Xande Canta Caetano nas plataformas digitais, mas sei que se fosse disco físico estaria vendendo muito. Se é que você ainda não sabe, é o seguinte: o conhecido artista carioca (que ganhou notoriedade no grupo de pagode Revelação) traz para o âmbito do samba 10 sucessos de Caetano Veloso. E faz de forma tão qualificada, afetuosa e única que o resultado ultrapassa o padrão habitual dos discos "Fulano Canta Beltrano”. Além de Gente, tem “outras” Qualquer Coisa, Tigresa, Trilhos Urbanos, Lua de São Jorge, Muito Romântico e, especialmente, Alegria, Alegria. Nas plataformas digitais.
José Pedro Gil canta Chico
O astro português António Zambujo já fizera um disco só com músicas de Chico em 2016. Agora, outro grande nome de lá vem com Trocando em Miúdos – José Pedro Gil Revisita Chico Buarque. Gravado entre Lisboa e São Paulo, com arranjos do maestro paulista Nelson Ayres, lançado lá e cá, o álbum se dedica a interpretações mais intimistas de 11 músicas do compositor brasileiro mais admirado pelos portugueses. Familiarizado com a MPB desde garoto, o cantor diz que optou pelo intimismo “para que as palavras se sobressaiam”. E se dá muito bem nessa opção, particularizando marcas de várias épocas e climas de Chico e parceiros, como Samba e Amor, Maninha, Tatuagem, João e Maria, Eu te Amo, Choro Bandido e Quem te Viu, Quem te Vê. Gravadora Biscoito Fino, só digital.