Há 60 anos o Brasil canta com Jorge Ben. Seu primeiro disco, Samba Esquema Novo, de 1963, já veio com futuros clássicos como Mas que Nada, Chove Chuva e Por Causa de Você, Menina. De lá para cá, são dezenas de sucessos que entraram na história da MPB com personalidade única. Por que, então, não há uma biografia dele?
Não havia: graça à pertinácia da jornalista carioca Kamille Viola, já podemos ler África Brasil – Um Dia Jorge Ben Voou para Toda a Gente Ver. Pertinácia por quê? Porque Jorge sempre afugentou todos os que se aproximavam em busca de informações sobre sua vida além da música. Kamille insistiu, conseguiu entrevistá-lo e por 10 anos levou adiante o projeto da biografia. Mais do que desvendar o personagem, ela redimensiona o artista.
Na verdade, o objetivo do livro (que integra a nova Coleção Discos da Música Brasileira, das Edições Sesc) seria contar tudo sobre o disco África Brasil, de 1976, um marco na carreira de Jorge, que nele assume a guitarra deixando para trás sua já mitológica batida de violão. Mas é claro que Kamille não iria perder a oportunidade de começar pelo começo. Entre muuuitas coisas, ela descobriu a idade dele, nascido em 1939 e não em 1945, como se pensava. Em recortes de jornais, e nas entrevistas, feitas com Gilberto Gil, Caetano Venoso, Mano Brown, Marcelo D2, BNegão e muitos mais, ela vai formatando a estatura de Jorge, que influenciou o samba, o tropicalismo, o rock, o rap, o manguebeat... Sem falar em sua importância para a afirmação do negro brasileiro.
África Brasil é o 14º disco – depois vieram mais 13, até 2007. Sim, há 15 anos ele não lança um álbum novo.
África Brasil – Um Dia Jorge Ben Voou para Toda a Gente Ver. Edições Sesc, 175 páginas, R$ 40. Também em e-book.
Antena:
As histórias de Paulo André
Quer saber tudo sobre o manguebeat, tido como o principal movimento de renovação da MPB depois do tropicalismo? O caminho é Memórias de um Motorista de Turnês, primeiro livro de Paulo André Moraes Pires. Com a espontaneidade da fala e clima de um diário, o texto conta as aventuras de Paulo André pelo Brasil e o mundo ao lado principalmente de Chico Science & Nação Zumbi. São histórias divertidas e muitas vezes vertiginosas – sempre com som pesado ao fundo. Figura essencial da música pernambucana, ele é o criador do festival Abril Pro Rock e foi produtor e divulgador de várias bandas além da Nação Zumbi, entre elas Mestre Ambrósio e Cascabulho. Curiosidade: Paulo André não usa a expressão “manguebeat”. Cepe Editora, 164 páginas, R$ 50.
Uma homenagem a Menescal
A música brasileira comemora os 85 anos de Roberto Menescal, e ele não para. Está agora no disco-homenagem Nós e o Mar, em que 10 de suas composições ganham arranjos diferenciados e o colocam ao lado de músicos com os quais nunca tocara. Resultado da parceria da produtora baiana Fernanda Quinderé e o músico cearense Ricardo Bacelar, o projeto gravado em Fortaleza mostra Menescal como se estivesse em casa – tanto que canta O Barquinho pela primeira vez desde 1962. Além dele no violão, tem Bacelar e o fluminense Diogo Monzo nos pianos e teclados, mais baixo e bateria. Também cantadas, Ah, Se Eu Pudesse e Bye Bye Brasil (esta com Leila Pinheiro). Entre as instrumentais: Rio, Você e A Morte de um Deus de Sal. Jazmin Music, CD R$ 50, também nas plataformas.
Marcella visita Dolores
Ela morreu com apenas 29 anos, em 1959, mas deixou uma obra pra não ser esquecida. Lançado em junho, o álbum Maria Marcella Canta as Dores de Dolores Duran visita 10 canções, algumas clássicas e outras menos conhecidas. Também carioca, 30 anos, Marcella optou por arranjos de formato tradicional criados pelo violonista e produtor Patrick Angello, com bandolim (pelo gaúcho Luís Barcelos), piano, baixo e percussão. A bela voz da cantora visita os climas daquela época gloriosa do samba-canção. Entre outras, A Noite do Meu Bem, Solidão, O Amor Acontece (todas dela), Por Causa de Você (DD/Tom Jobim), A Banca do Distinto (Billy Blanco) e o baião Prece de Vitalina (rara parceria com Chico Anysio). Este é o terceiro álbum de Marcella. Kuarup Musica, nas plataformas.
