A presença do pianista e compositor Paulo Dorfman na cena musical de Porto Alegre começa lá nos anos 1960. Seu histórico de atividades é enorme; muito porque outros puxam por ele pedindo músicas, arranjos, aulas. O temperamento retraído o afasta um pouco dos palcos e, mais ainda, das gravações. Tem apenas dois discos e, não fosse a determinação de Pedro Figueiredo, este terceiro, Jogo de Peteca, talvez não saísse. Mas está aqui e entra direto no departamento de joias raras da música instrumental gaúcha. Se Dorfman é conhecido pelo trabalho ligado ao jazz e à bossa-nova, hoje apresenta 12 choros!
Além da esmerada produção, Pedrinho, um dos grandes de nosso panorama instrumental (do jazz ao regionalismo) alia-se ao piano com flauta e sax soprano – e não dá pra imaginar o resultado sem ele. Mesmo sendo Pedrinho carioca (radicado em Porto Alegre há 40 anos) sua presença nos arranjos não viaja pelo chorinho tradicional: as 12 composições, umas mais rítmicas (como No Tempo de Délcio Vieira), outras no clima do choro-canção (Passeio em Gramado) têm DNA local. Jogo de Peteca é um disco inesperado e amoroso. Vale cada nota. Foi gravado ao vivo no palco do Salão de Atos da UFRGS deserto.
Financiamento Fumproarte. CD R$ 40. Pedidos no Instagram @jogodepeteca. Disponível nas plataformas digitais e em pedrinhofigueiredo.com/jogodepeteca. Show: 22 de agosto, 21h, Teatro da Santa Casa, onde o disco será vendido a R$ 30.
Violão do mundo
Ao ouvir Criações e Recriações, de Marcos Kröning Corrêa, e ler as 16 páginas do encarte, recordei a frase com que Atahualpa Yupanqui encerrou seu show na Califórnia da Canção de Uruguaiana, em 1981: “Siempre ando por todas partes, siempre vuelvo a Tucumán!”. Porque o violonista, compositor e professor Kröning é um artista do mundo e sempre volta a sua base, a Universidade Federal de Santa Maria, onde foi engendrado e gravado este terceiro disco – demorou, pois os anteriores são de 2004 e 2008. No encarte, descreve as 10 faixas, executadas por violões de seis ou sete cordas.
Embora se possa vê-lo na internet “classificado” também nas áreas do jazz contemporâneo e da world music, na verdade Kröning é um concertista clássico, fazendo valer sua formação, que tem como ápice o doutorado em Performance Musical na Universidade de Aveiro, Portugal. É, digamos, sério, mas comunicativo – em Iluminuras 3, por exemplo, explicita sua origem gaúcha. As duas composições não assinadas por ele são Allemande BWV 996, onde se diverte com Bach, e a alegre Xodó da Baiana, do mestre brasileiro Dilermando Reis, em que surpreende cantarolando ao final. Muito bom!
Apoio PGE Música UFSM. CD R$ 30 na Toca do Disco/POA e em marcoskc@gmail.com. Versão digital só em novembro. Recital de lançamento: neste sábado (19), às 20h, Auditorium Tasso Corrêa do Instituto de Artes no XIV Festival de violão da UFRGS.
Rock gaúcho
Por onde anda mesmo o tal rock gaúcho? Se há resposta objetiva, está no LP (sim!) Variações – Porto Alegre 2023. Produzido pelo incansável Egisto Dal Santo, reúne 10 nomes em atividade por garagens, porões e bares, evidentemente pouco vistos nos palcos do “mainstream”. Iniciativa ousada, ainda mais considerando a qualidade dos vinis da Rocinante, de Petrópolis (RJ). Para poucos: a edição (inicial) tem 300 exemplares numerados e capa sensacional.
Em ação desde os anos 1980, Egisto mostra o rock feito hoje por essas bandas. O disco tem nomes conhecidos como Paulo Arcari, Besixdouze e Lu Barros, e nem tanto, como The Brazil Nuts, Ernesto (começou como músico de rua), Trick’n’Roll, Volutta, Pietá & Benedyct, Duda Fortuna, Alemão Abstrato (de Santana do Livramento) e a misteriosa banda Setembrinos. Muitas participações. Pesado ou pop, é rock gaúcho na veia.
ENCRecords (falarei mais nas próximas colunas), vinil R$ 150 no Instagram do selo. Show de lançamento: neste sábado (19), 17h, Gravador Pub.