Quase não acreditei quando Dilmar Messias me contou que o Theatro São Pedro irá fechar por dois anos! Fui saber mais com Antonio Hohlfeldt, presidente da Fundação Theatro São Pedro, e ele confirmou: sim, o palco mais histórico e icônico de Porto Alegre interromperá as atividades em 20 de dezembro e entrará em obras em janeiro de 2023, devendo reabrir no final de 2024. Mas por quê?
— Tínhamos que, enfim, seguir as determinações, já antigas, de um projeto de acessibilidade e de prevenção de incêndios — resume Hohlfeldt.
Serão mudados a forração das poltronas, cortinas e materiais inflamáveis, sendo substituídos por “ignifugados” – palavra que designa materiais incombustíveis. Uma pena, gosto muito daquele aveludado e da cor das poltronas do São Pedro. Também será repintado internamente com tintas especiais.
Vale lembrar que ele foi inaugurado em 1858. Em 1973, pelo desleixo de sucessivos governos estaduais, foi fechado devido às precárias condições. Dois anos depois, um movimento tendo à frente Eva Sopher assumiu o projeto de restauração do teatro, reinaugurado em 1984 com a imagem que dele temos hoje — e que, promete Hohlfeldt, não mudará.
Enquanto isso, avançam as finalizações do Multipalco Eva Sopher, que seguirá ativo. Em setembro será aberto o teatro oficina. Em janeiro começarão as obras do chamado palco italiano, que finalizará o complexo do Multipalco. E dinheiro para tudo isso? Hohlfeldt faz as contas e calcula em mais ou menos R$ 51 milhões, captados nas leis de incentivo estadual e federal — neste caso, o patrocinador já está assegurado: o grupo Gerdau.
Vai ser duro ficar dois anos sem o São Pedro. E o que dizer do Teatro de Câmara, da prefeitura de Porto Alegre, fechado há oito anos?
P.S.: Em janeiro, em longa entrevista a Fábio Prikladnicki, Hohlfeldt anunciou as reformas no São Pedro e disse que ficaria fechado durante um ano e meio. A novidade é que o prazo passou para dois anos.
Dezenas de atrações
Ainda em julho, teremos no São Pedro a Orquestra da Ulbra com Divas do Pop (sábado, 23, às 21h) e Especial Queen (domingo, 24, às 18h e 21h). No dia 26, os gaiteiros argentinos Chango Spasiuk e Alejandro Brites no show Ponto e Pianada (21h). Dia 27, Musical Évora com O Violão Ibero-americano de Miguel Besnos (12h30). De 28 a 30, espetáculo Gabinete de Curiosidades, de Luciano Alabarse, com Zé Adão Barbosa, Arlete Cunha e Fernando Zugno (21h).
Agosto começa no dia 5: Antonio Villeroy volta com Luz Acesa. Nos dias 6 e 7, Marcelo Médici e Ricardo Rathsam trazem Teatro para Quem Não Gosta. A Orquestra Theatro São Pedro apresenta Concertos Didáticos em 9 e 10. O Grupo Tholl é a atração de 12 a 14. De 19 a 21, teatro: A Golondrina, com Odilon Wagner. No dia 24 tem os músicos do Clube da Encruza. No 31, Veco Marques e Diego Dias visitam o Clube da Esquina.
Show de Tim Bernardes abre setembro, dias 1º e 2. Toquinho tem 3 e 4 para crianças e 5 e 6 para adultos. De 9 a 11, peça Longa Jornada Noite Adentro, de Sergio Módena. Mais teatro: O Despertar da Primavera, de Pedro Ruffo, dia 16. No dia seguinte, show Vida e Obra de César Passarinho. Em 27, Operita Violoncello, da Cia. de Ópera do RS. No dia 28, show de Vinicius Brum. E de 29 a 1º de outubro, Ballet Vera Bublitz.
A divulgação dos eventos depende de confirmações oficiais.
Maria Rita Stumpf recria sucessos da MPB
Diferenciado, Ver Tente, 4º álbum de Maria Rita Stumpf, já pode ser considerado um dos grandes lançamentos do ano em MPB. Caxiense com passagem por Porto Alegre, há muitos anos radicada primeiro no Rio, depois em São Paulo, ela vinha atuando como produtora de espetáculos (principalmente de música erudita) até seu disco Brasileira, de 1988, ser “descoberto” em 2017 por DJs europeus. Foi o estopim para a volta.
Cantando o Brasil profundo, Maria Rita mostra mais uma vez ter um caminho só dela; é única. Aqui, além de trazer novas canções suas de fina extração e essência política, como Vertente e seu envolvente clima de hino, dá personalidade nova a sucessos como Mata Virgem (Raul Seixas), O Vento (Caymmi), Pavão Misteryozo (Ednardo), Açaí (Djavan) e San Vicente (Milton Nascimento/Fernando Brant).
Algumas recriações, olha, melhores que as originais. Tudo com a presença de músicos do calibre de Lui Coimbra (cello), Marcos Suzano (percussão), Danilo Caymmi (flauta), Cristina Braga (harpa) e o surpreendente tecladista Farlley Derze, em marcantes arranjos.
A última faixa é a volta da hipnótica evocação indígena de Cântico Brasileiro nº 3, dela, com participação de Zé Caradípia e o grupo Quintal de Clorofila, gravada ao vivo no festival Musicanto de 1984 — a música que chamou a atenção dos citados DJs. (Disponível nas plataformas digitais)