Um dos mais tradicionais teatros do Brasil, o São Pedro, de Porto Alegre, ficou fechado de 1973 a 1984 para uma obra de recuperação, comandada por Eva Sopher (1923-2018), que se tornou sua guardiã. Agora, o professor e crítico teatral Antonio Hohlfeldt, que sucede Dona Eva na presidência da Fundação Theatro São Pedro, vai comandar uma nova obra, que exigirá o fechamento do teatro por um ano e meio, a partir do início de 2023.
O objetivo é adaptar o São Pedro, equipamento vinculado ao governo do RS, às exigências atuais de acessibilidade e prevenção contra incêndio. Uma obra já em andamento até março de 2022 resultará na substituição do ar-condicionado. Durante o ano de 2022, a casa de espetáculos deve operar normalmente antes da parada mais longa no início de 2023. Nesta entrevista, Hohlfeldt fala sobre o futuro do São Pedro e sobre as obras do Multipalco, complexo que está sendo construído desde 2003 em um espaço anexo ao prédio histórico, além de abordar outros temas de seu domínio, como a crítica teatral, a pesquisa e a política.
O Theatro São Pedro passará por uma grande obra. O que será feito?
A questão mais problemática é o ar-condicionado. Desde 2018, quando assumi a direção, procuramos otimizar o uso do ar. Tínhamos dois equipamentos e acabávamos fazendo aquela autofagia de tirar peça de um para botar no outro e ficar só com um deles funcionando. Quando retomamos as atividades a partir de maio deste ano (após a pandemia), o equipamento parou de vez (o São Pedro tem trabalhado desde então com equipamento alugado). Esse equipamento é tão antigo que não tem mais peça para trocar. Além disso, estava completamente corroído pela ferrugem. Então, buscamos técnicos especializados. Ao longo desse processo, ficou evidente que manter o projeto original – que era ter um único ar-condicionado para dar conta do Theatro São Pedro e do Multipalco – não tinha mais sentido, porque a tecnologia vai avançando. Então, serão dois equipamentos separados. Aí entrou o desafio de conseguir o dinheiro. Felizmente, havia um antigo projeto, apresentado pela Associação Amigos do Theatro São Pedro, de R$ 7,5 milhões, que estava aprovado pela Lei de Incentivo à Cultura federal, mas não liberado para captação. Com a nova direção da associação, através de Gilberto Schwartsmann (que assumiu a presidência da entidade em abril de 2021), conseguimos liberar a captação. A Gerdau bancou o total de R$ 7,5 milhões. Uma parte da verba da obra do ar-condicionado também tinha sido captada por nós mesmos aqui da Fundação Theatro São Pedro um tempo atrás. Tínhamos recebido R$ 1 milhão. Então, a gente fez uma parte do projeto com dinheiro da associação e outra, complementar, com o dinheiro da fundação.
Isso quanto ao ar-condicionado do Teatro. E o do Multipalco?
Dos R$ 7,5 milhões da Lei de Incentivo à Cultura federal, cerca de R$ 4 milhões serão empregados no ar-condicionado do São Pedro e o resto, no do Multipalco, que também será coberto por parte dos outros R$ 7,5 milhões liberados pelo governador Eduardo Leite (em agosto de 2021). Essa parte do ar-condicionado do Multipalco já está em licitação. Tinha que ter projetos compatíveis (entre os equipamentos do São Pedro e do Multipalco), esse era outro desafio. Fechamos o teatro no dia 23 de dezembro e tenho a perspectiva de reabri-lo em 20 de março por causa da Semana de Porto Alegre e dos festejos dos 250 anos. Nesses três meses, pretendemos fazer a substituição total do equipamento do Theatro São Pedro. Daí, precisamos fazer os trabalhos de acessibilidade e prevenção a incêndios, orçados em R$ 13 milhões.
O que envolvem esses R$ 13 milhões?
O projeto prevê a restauração do prédio histórico (do São Pedro) como um todo, os painéis pictóricos e os ornamentos que compõem o forro, os banheiros. No térreo e no andar do café, os banheiros serão adaptados aos cadeirantes. Isso é uma revolução: tem que arrebentar porta, mudar todo o desenho interno. Depois, vamos mexer em todas as instalações hidrossanitárias, porque são muito velhas. Nesse período da covid-19, localizamos dezenas de vazamentos. Chegamos a ter conta de água de R$ 40 mil. Estamos agora com conta de R$ 6 mil, que é nosso normal. Além disso, vamos fazer a substituição de louças e revestimentos dos banheiros e a revisão e substituição de toda a rede elétrica, por causa da prevenção a incêndio. Também vamos fazer uma revitalização do projeto de iluminação externa do prédio. Vamos criar uma iluminação que recupera um pouco a tradição do teatro inglês do tempo do Shakespeare, em que a cor de uma bandeira anunciava se estava em cartaz uma tragédia, uma comédia, um drama. Vamos ter uma iluminação desse tipo no teatro. E o principal: vamos instalar um elevador para cadeirantes que vai vir do Memorial, vai passar pela entrada do teatro e vai até o café. Mantém-se a escada num outro formato, mas vai ter esse elevador. Também vamos mexer em toda a conformação da estrutura interna do teatro. Todas as poltronas têm que ser retiradas. Isso significa mexer no tapetão do chão, no pano de boca. Tudo que for pano tem que ser trocado, porque temos que entrar com os tecidos ignifugados (apropriados à prevenção contra incêndio). Até o estofamento dos bancos tem que ser todo trocado. Tudo isso é para o PPCI. Nas portas, vamos ter que botar aquelas barras anti-incêndio. Também vamos mexer na disposição das poltronas: toda a parte frontal vai ser destinada para cadeirantes e seus acompanhantes. E, pelas laterais, junto aos corredores, haverá poltronas para obesos. Claro, nós vamos ter que mexer em toda a climatização e também na mesa de som e luz. Os projetos estão sendo encaminhados para a Lei de Incentivo à Cultura federal.
Quanto tempo se estima que vão demorar as obras de acessibilidade e do PPCI?
Fechamos o teatro agora durante três meses para a substituição do ar-condicionado e abrimos no final de março, seguindo abertos até o final do ano. Enquanto isso, fazemos os projetos de captação. Se tudo der certo, em janeiro ou fevereiro de 2023 a gente fecha o São Pedro durante um período em torno de um ano e meio para fazer isso tudo. Porque esse projeto de recuperação é enorme. Vamos mexer nas entranhas do teatro. Lembra quando a Eva coordenou a outra obra, de reconstrução? Ela teve que mexer dentro das paredes. É nisso que vamos ter que mexer de novo, depois de mais de 35 anos. Pode parecer pouco tempo, mas é um tempo enorme para equipamentos desse tipo, até porque mudou muito a tecnologia. Mas a gente pretende depois disso botar o teatro para durar mais uns 50 anos, até outra obra desse tipo. De março a dezembro de 2022, vamos fazer obras no Multipalco. Ainda não teremos o Teatro Italiano do Multipalco, mas teremos as outras salas todas: o Teatro Oficina, a Sala de Dança, a Sala de Circo, a Sala da Música. Essas salas vão substituir, na medida do possível, o Theatro São Pedro fechado (durante 2023 e parte de 2024). Não poderemos ter os grandes espetáculos, mas teremos outros. Não ficaremos parados. Agora: se conseguirmos captar os R$ 13 milhões do Theatro São Pedro antes, fechamos o teatro em agosto de 2022 e antecipamos as obras.
Vamos criar uma iluminação que recupera um pouco a tradição do teatro inglês do tempo do Shakespeare, em que a cor de uma bandeira anunciava se estava em cartaz uma tragédia, uma comédia, um drama.
As obras do Multipalco começaram em 2003. Qual é a perspectiva para que o Multipalco seja concluído?
Quando a secretária (estadual da Cultura) Beatriz Araújo nos comunicou a disponibilidade do governo do Estado para fazer investimentos no Multipalco, colocamos duas alternativas. Uma delas era investir um valor muito elevado para terminar o Teatro Italiano. Não é só a parte da engenharia civil, mas sobretudo a tecnologia de luz e som, que tem de ser importada. A outra alternativa era fazer toda a obra complementar do restante dos espaços. Com R$ 250 mil que o então Ministério da Cultura nos deu (incluindo os R$ 50 mil de contrapartida do governo do RS), compramos madeira, que já está depositada aqui, para fazer o piso flexível do Teatro Oficina. É uma sala de espetáculos experimental, que pode ser formatada como se quiser. Com os R$ 7,5 milhões liberados pelo governador (em agosto de 2021), vamos terminar o Teatro Oficina, a Sala de Dança, a Sala do Circo e vamos concluir corredores de acesso, banheiros, camarins, salas de estudo que estão em torno do Teatro Italiano. A Associação contratou um escritório de arquitetos para atualizar o projeto do Teatro Italiano. Um novo projeto vai ser apresentado para captação e quem sabe possamos fazer as obras também em 2023.
Há um debate antigo no meio cultural sobre o espaço que o São Pedro deve dedicar a atrações gaúchas. O que o senhor e o diretor artístico Dilmar Messias pensam sobre essa questão?
Desde que o Dilmar assumiu (em 2015), isso ainda no tempo da Dona Eva, ele vinha com essa ideia de poder ampliar o espaço para as produções locais. Mas não adianta a gente pensar utopicamente que vamos ampliar a produção local sem pensar nas questões práticas, objetivas. Por exemplo: quanto custa cada noite de funcionamento do teatro? Neste momento, está na base de R$ 6,5 mil. Um espetáculo local, independentemente de sua qualidade, consegue faturar isso de bilheteria na parte que toca ao teatro? Não. Um espetáculo que vem de fora eventualmente consegue, porque já vem coberto por patrocínio. Então, qual é o primeiro desafio? É estabelecer, como linha de ação, que queremos trazer espetáculos de Porto Alegre ao São Pedro. Se tu pegares o número de espetáculos de fora e locais nos últimos dois, três anos, tu vais te surpreender, porque o número de locais é muito maior. Neste ano, do dia 27 de maio, quando reabrimos, até agora, praticamente 100% da nossa produção é local – aí por outros motivos, inclusive a pandemia. Porque os grupos de fora têm dificuldade de viajar, enfrentam inclusive problemas com o governo Bolsonaro, de falta de patrocínio da Lei de Incentivo, já que o governo trancou tudo. Agora: tenho que ver a questão da qualidade dos espetáculos locais, sim. E do público. Não posso abrir o teatro para ter 50 pessoas numa plateia de 600 lugares. Há espetáculos que fazem sucesso enorme, caso do Hique Gomez, por exemplo. Mas não basta dizer que quero trazer grupos de Porto Alegre. Quero trazer, mas tenho que viabilizar. Não adianta fazer isso durante seis meses e depois o teatro quebrar porque não tem mais dinheiro. Tenho que fazer um projeto que busque o equilíbrio.
Como está a relação da Fundação Theatro São Pedro com a Orquestra Theatro São Pedro?
Quando reabrimos o teatro, em maio, o primeiro espetáculo que apresentamos foi da Orquestra Theatro São Pedro. Fechamos um convênio com a orquestra, que tinha sido praticamente afastada do teatro, e eles passaram a poder ensaiar aqui dentro. Ocupam nossos espaços, têm uma sede aqui. E eles, em contrapartida, fazem um concerto mensal gratuito. Como esses concertos já estavam pagos pelo financiamento, o que fizemos? Os ingressos foram substituídos por doações de alimentos. De maio para cá, recolhemos mais de três toneladas de alimentos. Mais do que isso, a orquestra criou também a orquestra jovem. O maestro Evandro Matté aproveitou a Lei Aldir Blanc, comprou instrumentos e criou uma escola de formação musical para além da ONG Sol Maior, que a gente já a tinha. Então, hoje temos dois grupo de formação musical. Para além da questão dos espetáculos, nossa preocupação é também com a formação de artistas e de plateia.
O crítico tem um compromisso menos de dizer se é bom ou ruim e mais de dissecar o espetáculo.
Em dezembro, a cantora trans Valéria fez uma carta aberta em que afirmava ter sido tratada com desrespeito pelo senhor durante uma passagem de som no São Pedro, como o fato de ter se dirigido a ela no gênero masculino. Ela disse que, em vez de desculpas, quer "ações efetivas". Como o senhor analisa esse episódio?
A mim o episódio abalou bastante. Deixei bem claro numa manifestação que fiz, acho que no segundo dia de todo esse quiproquó, que não integro grupo de preconceito. Nesse sentido, tenho que ter uma certa humildade em relação ao episódio em si. Desde que fizemos a nossa primeira transmissão em vídeo no ano passado, uma das primeiras artistas convidadas foi a Valéria. E, naquela noite (em que aconteceu o episódio), o que ocorreu? Um espetáculo chamado BR-Trans (Valéria fez um pocket-show ao final do espetáculo). Então, não temos que começar a fazer (ações efetivas, como pediu Valéria), já estamos fazendo há muito tempo. E vamos continuar fazendo. Basta ver a programação toda. Se houve erro meu, esse erro está sendo sanado pelas coisas que já estão acontecendo aqui no teatro.
O senhor mantém há muitos anos uma coluna semanal de crítica teatral no Jornal do Comércio. Como avalia seu papel hoje, em uma época em que se reflete sobre o poder que um crítico tem para legitimar uma obra? As pessoas parecem buscar essa legitimação em lugares como as redes sociais, por exemplo.
Desde que comecei o curso de Letras, aos 18 anos – portanto, deve dar uns 50 e poucos anos –, eu ouço falar da crise da crítica. Não tenho a pretensão de que a crítica acerte sempre. Mas o crítico que realmente merece esse nome deve ter um preparo técnico, no sentido de ter feito cursos e estudos, de ter frequentado os teatros, os concertos. Opinião, obviamente, todo mundo tem e deve ter. Mas é uma opinião mais impressionista. O crítico tem um compromisso menos de dizer se é bom ou ruim e mais de dissecar o espetáculo. Outra coisa importante da crítica é o registro que se torna histórico em relação a uma obra. Isso te dá uma dimensão que é sobretudo de contextualização daquela obra. O que ela renova, o que ela revoluciona, o que ela quebra, o que ela propõe. Principalmente, o exercício da crítica tem que observar a coerência da obra. O autor consegue fazer o que pretende? A crítica atinge um segmento muito pequeno do público, isso é assim historicamente, mas esse seleto público é que define os chamados cânones, que identificam as tendências de época. Nesse sentido, uma boa crítica é tão criativa quanto uma obra de arte, embora sempre venha depois da obra de arte.
A responsabilidade pela falta de público dos nossos teatros é pesadamente dos cursos de Letras, porque têm preconceito em relação à dramaturgia.
O senhor ministra um laboratório de criação dramática na graduação em Escrita Criativa da PUCRS em que propõe exercícios de criação de textos para teatro. Como é o interesse dos aspirantes a escritor pela dramaturgia?
Em um primeiro momento, quase nenhum. Quando entro em sala de aula no início do semestre e pergunto quem costuma ir ao teatro, diria que é 5% e olhe lá. A culpa é dos cursos de Letras. A responsabilidade pela falta de público dos nossos teatros é pesadamente dos cursos de Letras, porque têm preconceito em relação à dramaturgia. Eles entendem que dramaturgia não é literatura.
Sempre foi assim?
Infelizmente. Desde que eu fiz o curso, nos anos 1960. Quando entra em dramaturgia, en passant, é o José de Anchieta e o Martins Pena. E só. Então, o aluno de Letras se forma quase sempre sem ter ideia do que é dramaturgia. Tenho outra experiência. Dou uma disciplina de teorias do drama na pós-graduação em Letras da PUCRS. Falando, portanto, com gente do mestrado e do doutorado. E eu diria que 90% desses estudantes – que às vezes tem 30 ou 40 anos – nunca leram textos de teatro. Então, descobrem um mundo novo e ficam fascinados.
Há também a não penetração da dramaturgia nas escolas.
Exatamente. Mas é consequência dos cursos de Letras. O curso de Letras prepara o professor, o professor se prepara mal nesse sentido, e esse professor vai para a sala de aula e reproduz o mesmo preconceito com a dramaturgia. Se tu pegares os programas de Ensino Médio de literatura, não tem nada de dramaturgia. Mas se tu pensares no Martins Pena, por exemplo, ele é de grande atualidade ainda hoje. Algumas coisas estapafúrdias do Brasil já estavam lá nas comédias de costumes dele, de 1840 e poucos.
Seja quem for o próximo presidente (do Brasil), temos um desafio enorme e que não vai ser vencido em quatro anos: é preciso remontar o que foi desmontado.
Vemos hoje um êxodo de cérebros para o Exterior. Como o senhor vê a crise do financiamento à ciência no Brasil?
Darcy Ribeiro dizia que o problema da educação no Brasil ser ruim não é um problema de falha, é um problema de projeto. Ou seja, se a população for educada direito, periga mudar o país. A elite não está interessada em mudar o país. No atual governo, isso está elevado a uma potência infinita de destruição das áreas de ciência, tecnologia, cultura e educação. Basta ver quais são as pessoas que respondem pela Capes, pelo CNPq, pelo Ministério de Ciência e Tecnologia, pela Cultura, que foi reduzida a secretaria e agora está lá no meio dos negócios de Turismo. Isso não é por acaso: é um projeto de desmonte. Por quê? Porque essas coisas nos fazem pensar. Seja quem for o próximo presidente, temos um desafio enorme e que não vai ser vencido em quatro anos: é preciso remontar o que foi desmontado. E eu não acreditava que em dois ou três anos se podia desmontar tanto.
O senhor já foi vereador de Porto Alegre em diferentes ocasiões e vice-governador de Germano Rigotto entre 2003 e 2006. Nesse itinerário, passou por PT, PSDB e PMDB (hoje, MDB). Como vê o cenário político no Brasil hoje, considerando as ameaças à democracia?
Em algumas situações, o mais grave não é a ameaça de golpe de Estado. O mais grave, às vezes, são situações em que declaradamente estamos em um sistema democrático, mas cuja convivência com as diferentes forças sociais é desrespeitada constantemente. Se o STF não tivesse agido no sentido de uma resistência, teríamos sim um sistema de aparência democrática mas completamente fechado. O Congresso está conivente e leniente com o Executivo. E, em parte, o Senado idem. Quem tem ficado fora disso é o Judiciário, isso que tem salvaguardado um pouco um mecanismo democrático no Brasil. Então, nosso risco maior não são golpes militares, mas modelos como a Turquia ou a Rússia, em que um presidente se perpetua no poder por meio de eleições fraudulentas nas quais seus opositores são todos desqualificados, perseguidos, presos ou assassinados. Não estamos ainda bem nesse nível aqui no Brasil – reitero, muito por causa do STF –, mas acho que em vários momentos a gente correu riscos muito sérios.