Porto Alegre está se despedindo de uma das pessoas com o olhar mais sensível para a cultura produzida por aqui, o fotógrafo Claudio Etges morreu vítima de covid-19 nesta terça-feira (30), aos 62 anos. O profissional, com mais de 40 anos de carreira dedicados a registrar as artes, já havia tomado três doses da vacina contra a doença que o vitimou, que foi agravada devido a comorbidades, como diabetes e um transplante renal.
Etges começou a sentir os sintomas da covid-19 há menos de uma semana. E, assim que eles se intensificaram, o fotógrafo foi internado na UTI do Hospital São Lucas, da PUCRS. Lá, ele ficou entubado por dois dias, mas não resistiu. Ele deixa a esposa Leta Etges e duas filhas, Sofia e Verônica. Ainda não há detalhes sobre os atos fúnebres.
Nascido em Porto Alegre, Etges se formou em Psicologia pela Unisinos, mas desenvolveu, a partir dos anos 1980, uma carreira dedicada à fotografia das artes, em especial a dança, o teatro e a música. Graças ao seu olhar único, teve suas imagens publicadas em outdoors, cartazes, CDs, livros, revistas e jornais de abrangência nacional e internacional.
— O Claudio sempre foi muito ligado à dança, fotografando praticamente todas as apresentações de Porto Alegre. Ele tinha um olhar muito peculiar. Ele era um dos poucos fotógrafos que conseguia pegar o movimento do bailarino quase como se fosse uma pose. Ele assistia a muitos ensaios e conseguia entrar no ritmo da performance — exalta o amigo Álvaro Rosa Costa, que atua como ator e músico.
Ao longo de sua trajetória, realizou exposições em diferentes espaços culturais de Porto Alegre, do interior do Estado e de Santa Catarina, além de integrar a equipe de fotógrafos que publicou um livro em comemoração aos 150 anos do Theatro São Pedro. O trabalho de décadas com uma câmera na mão resultou em um dos maiores acervos fotográficos do movimento cultural gaúcho, com a publicação de livros, exposições e no recebimento de prêmios e homenagens.
— É uma perda irreparável. O olhar do Claudio para com a cena era uma coisa impressionante. Ele era capaz de captar o movimento, se é que isso é possível. A sensação que tu tinhas quando olhava uma foto dele, era de que o movimento continuava naquela foto. Isso era uma coisa incrível e que, para mim, ele foi o único até hoje que conseguiu fazer isso. E, além deste artista incrível, ele era um ser humano de uma generosidade incomparável — conta a atriz e bailarina Angela Spiazzi, amiga de Etges.
Os anos dedicados à fotografia de arte lhe renderam diversos prêmios e homenagens. Entre eles, em 1996, ganhou o Troféu Açorianos Especial, oferecido pela prefeitura municipal de Porto Alegre em reconhecimento ao seu ofício como fotógrafo das artes cênicas na Capital. Sete aos depois, foi a vez da casa de espetáculos El Tango lhe ofertar o troféu Bandoneon, por contribuir com a divulgação do tango na imprensa. Em 2004, o Teatro do Sesi lhe conferiu o prêmio Destaques da Dança e, em 2007, o Pró Ballet de Caxias do Sul concedeu-lhe o Incentivo à Arte da Dança, no VII Festival Latino-Americano de Danças.
Em 2008, recebeu o Troféu Açorianos Especial da prefeitura municipal de Porto Alegre, e em 2020, o Acrescer 2020, no Prêmio Açorianos de Dança como Personalidade do Ano. Em 2021, foi contemplado com o Prêmio Trajetórias Culturais RS.