O projeto Fábrica de Gaiteiros, de Renato Borghetti, começa a ultrapassar as fronteiras do Rio Grande. Em setembro, jovens uruguaios das cidades de Treinta y Tres e Tacuarembó estarão começando a aprender a tocar gaita ponto pelo método desenvolvido por Borghetti nos instrumentos produzidos pela Fábrica de Gaiteiros da Barra do Ribeiro. A iniciativa é uma parceria do Instituto Renato Borghetti de Cultura e Música com o Ministério da Cultura do Uruguai. Na última sexta-feira (17), estiveram na Fábrica representantes da intendência de Treinta y Tres para levar os primeiros 10 instrumentos doados, depois de passar pelas burocracias.
A história começou em 2019, com a participação do grupo de Borghetti no Festival Musica de La Tierra, em Montevidéu. Ele fez também uma palestra sobre a Fábrica, despertando o interesse de Moriana Peyrou, diretora do Instituto de Música do Ministério da Cultura, que propôs levar o projeto para lá. Aí veio a pandemia e a conversa só foi retomada este ano. O lançamento oficial será em setembro, nas duas cidades que receberão o projeto no primeiro momento. Vale lembrar que a Fábrica de Gaiteiros foi criada em 2010, hoje está em 15 cidades gaúchas e catarinenses, e por ela já passaram cerca de 1,5 mil jovens.
E o maestro, a todas essas? Fluência de shows voltando ao normal. Na próxima semana, será uma das atrações da primeira edição do festival Sotaques da Sanfona Brasileira, em Belo Horizonte. Em seguida, festa junina em Vitória da Conquista, na Bahia. Depois tem o Curitiba Jazz Festival. E por aí vai...
O lado compositor de Dudu Sperb
Depois de discos e shows que o tornaram conhecido como intérprete da obra de gente como Caetano, Guinga, Chico, Elis, Cole Porter, neste sexto álbum, De Longe e de Perto, o porto-alegrense Dudu Sperb apresenta seu lado de compositor. Compostas entre 1992 e 2019, as músicas foram pedindo passagem durante a pandemia. Predominam as lentas e intimistas como a bela Veludo Carmesim, gravadas no formato voz e dois violões (ele na base, Marcel Estivalet nos solos), com aqui e ali a percussão de Fernando Sessé. Destaco mais três: Quando Será Que Será (samba de conteúdo político com as vozes de Anaadi, Marcelo Delacroix, Marcelo Freire, Raquel Leão e Vanessa Longoni), a fortemente rítmica Maçambique (participação de Loma) e a densa e misteriosa The Spirit and The Dust, sobre poema de Emily Dickinson (participação de Vitor Ramil). Álbum na contramão dos padrões habituais. (Independente, CD R$ 50 no site oficial do artista e na Bamboletras, em Porto Alegre)
Izabel Padovani canta Raul Boeita
Quem ainda não conhece Izabel Padovani não sabe o que está perdendo. É uma das grandes cantoras brasileiras, com trabalho sólido distribuído em sete álbuns. Em Povaréu, canta só músicas do gaúcho Raul Boeira. Paulista de Campinas, Izabel conviveu em Viena por 10 anos com uma turma de gaúchos da área do jazz liderados por Alegre Corrêa — e voltou em 2005 casada com um deles, o baixista Ronaldo Sagioratto. Além dele, conta com mais dois músicos de alto nível, Ricardo Matsuda (violão, viola, guitarra) e Jota P (saxes, flauta, picolo). Boeira conheceu aquela turma em Passo Fundo, onde trabalhou; compõe e toca violão mas nunca foi um cara de palco. As 10 canções escolhidas por Izabel enfatizam o talento do compositor em sambas, valsas, canções de descendência folclórica, tudo muito forte. Um álbum que te conquista. Vou citar só uma faixa, a última, Minha Reza, dedicada a “São Tom Jobim”. (Independente)
Um disco histórico para Miguel Isoldi
Algumas cidades do RS têm cenas musicais próprias. É o caso de Rio Grande, que durante muito tempo viu surgirem músicos ligados ao rock e ao blues. Alguns buscaram outros ares, como Bebeco Garcia, Luís Mauro Vianna e Gambona, outros ficaram por lá. Um destes, “resgatado” agora por Gambona (grande nome do blues), é Miguel Isoldi, cantor, compositor e poeta que, em Rio Grande, não há quem não conheça. Cassino é o título do disco que sintetiza sua trajetória e também homenageia seu maior parceiro, Beto Federal, abatido pela covid em 2020. “O Miguel e o Beto eram o Sá & Guarabira gaúchos”, diz Gambona. São 12 faixas, a maioria em parceria com Ângelo Vigo. Tem pop, rockabilly, blues, rock rural e até um tango! Muito bem produzido, com Gambona e Felipe Kern Moreira assumindo a maior parte dos instrumentos, pode-se dizer que este é um disco histórico. (Independente, CD R$ 30 pedidos para miguelisoldi@yahoo.com.br e na Toca do Disco, em Porto Alegre)