A música popular brasileira não tem muitos gaitistas consagrados. Lembro de três mestres, Edu da Gaita, Rildo Hora e Maurício Einhorn – o blues tem alguns, mas são casos à parte. Por isso, deve ser saudado o lançamento do álbum Plural, em que o brasiliense Gabriel Grossi comemora 25 anos de carreira. Gosto muito da gaita de boca, que parece simples e, sei lá por que, é pouco valorizada. Exige muito do executante para revelar seus segredos, o que talvez explique serem poucos. Grossi já gravou e tocou com grandes nomes e tem aqui uma seleção verdadeiramente única.
São 10 composições dele e outros, instrumentais e cantadas, música de altas esferas, MPB, jazz, com gaita, piano, baixo, bateria mais os convidados, claro, que fazem a diversidade. Olha só: Lenine, Zélia Duncan, Yamandu (!!!), Ed Motta, Leila Pinheiro, Hermeto Pascoal. No meio deles, a clarinetista israelense Anat Cohen, o pianista cubano Omar Sosa e dois ingleses que faltam adjetivos para agradecer a Grossi por me ter apresentado: o saxofonista Seamus Blake e o (guri) pianista Jacob Collin!!!! Enfim: um álbum histórico, antídoto para estes tempos. (Lançamento Audio Porto)
ANTENA
Laura: Rock sem amenidades
Oxigênio, 17º álbum autoral de Laura Finocchiaro em 40 anos de carreira (iniciados em Porto Alegre em 1982, desde 1983 vividos em Sampa), é um dos mais desafiadores – e olha que seu pop-rock nunca foi de amenidades. Gravado em homestudio, ela cantando e tocando tudo (violão, guitarra, bases eletrônicas), é porrada do início ao fim, contemporâneo, político. A primeira faixa, Vírus, já traz um manifesto contra o "coiso", chamado de asqueroso pra baixo. Hino à Diversidade sugere que se "abrace a diferença". Minas Sonoras diz "Juntas somos mais fortes/ Juntas ninguém nos segura". E por aí segue em Da Paz, Asfixia, Trans, letras ótimas, densidade musical, competência, empatia. Pra não dizer que não tem, A Vagar é um pop "radiofônico". (Distribuição CD Baby)
Dulce: MPB além das modas
A carioca Dulce Quental seria uma artista bissexta? Este Sob o Signo do Amor é o sexto álbum de estúdio em 35 anos de carreira. E o primeiro que grava desde 2004 – o anterior também fora feito depois de 15 anos de ausência. Mas esses longos intervalos não quebraram o fluxo criativo da cantora e compositora. O álbum, que ela define como "uma conversa ao pé do ouvido", discorre sobre amor, filosofia, política, em letras muito boas. A produção de Jonas Sá e Pedro Sá reúne músicos da pesada em arranjos sofisticados. Dulce não segue modas, sua inspiração vem de vários lados cercando MPB e pop. No tango Vagabundos Fugidios, canta: "Já que não posso ter você/ Levo todos os seus livros para a cama". Título da última faixa: A Arte Não É uma Jovem Mulher. (Cafezinho Edições)
Marimon: Blues made in RS
Integrante das bandas pelotenses Mato Cerrado e Matudarí, que seguem estilos diferentes, o guitarrista, baixista, vocalista e compositor Yuri Marimon definiu o blues para ser o eixo do primeiro álbum solo, Estação Basílio. Claro que não foi por acaso, pois o trabalho prova que sua formação deve muito ao blues elétrico, rockeiro. Sabe tudo da guitarra distorcida, pesada, toca muito mesmo e canta com aquele acento do rock gaúcho. Gravado em Pelotas com Cleber Vaz nos teclados e Bruno Del Pino na bateria, o álbum tem sete faixas, cinco com certeiras letras de Valder Valeirão. Uma delas: "Dos dias de pranto/ Das noites de ilusão/ Nas horas de frio/ Quando a vida diz que não/ O blues é que me salva a alma". (Independente, R$ 25, pedidos para yurimarimon@hotmail.com)
Insernhagen: letras e gauchismos
Ainda por ser mais conhecido do público em geral, Juan Daniel Isernhagen é daqueles batalhadores incansáveis pela divulgação da cultura gauchesca. Santa-mariense radicado em Camboriu (SC), tem espalhado seus versos pelos festivais nativistas e, raridade, produzido literatura. Sua última obra, Pueblito, une as duas coisas: um livro de 220 páginas que traz junto um CD de música. No livro, a partir do personagem Riograndino Artigas Folcloreando, Juan Daniel reúne contos, crônicas, poemas e outras anotações, ilustrados por desenhos e pinturas. No CD, estão 18 músicas dele e parceiros interpretadas por Marco Aurélio Vasconcellos, Joca Martins, Xiru Antunes, Buenas e M'Espalho, Ita Cunha e outros. (Martins Livreiro, R$ 59,90 em minuanodiscos.com.br)