Quem ouvir INTRANSIT, primeiro disco solo de Luiz Bueno, ouvirá um músico/instrumentista em processo de reinvenção, redescoberta, renascimento. Vamos combinar que partir quase do zero, aos 70 anos, ainda mais fazendo música instrumental no Brasil, não é para qualquer um – o "quase", neste caso, se deve ao simples fato de que Luiz é, apenas, um dos grandes violonistas do mundo. Só que, antes, durante 42 anos, ele dividia ouvidos e olhares com Fernando Melo no Duofel, mais conhecido duo brasileiro de violões, que deixou de existir em meados de 2020.
O que se ouve em INTRANSIT não tem nada a ver com o Duofel. Luiz considerou que não deveria misturar as coisas. Sequer cogitou manter o duo com outro parceiro ou, mesmo só, seguir a mesma trilha. O que se ouve é uma música sem referências, não se parece com nada. As oito faixas têm títulos distintos (Engraça, Cria, Voo, Convida, Compassos, Doce, Cura e Mundo), mas tais títulos não orientam as audições. Na verdade, Luiz poderia classificá-las de InTransIt – 1° Movimento, 2º Movimento e assim por diante.
Às vezes temos algo como uma colagem de sons, com variações súbitas. Aqui e ali, em busca de alguma, digamos, segurança, podemos sentir referências de música progressiva, ou de música aleatória, ou de música minimalista. Às vezes parecem dois violões, quando é sempre um só. Nada é comum. Na primeira audição é tudo surpresa, nas seguintes vamos descobrindo coisas e nos familiarizando. Até porque o trabalho representou certa surpresa inclusive para o próprio autor. Vamos dizer que se aproxima das "invenções" de Hermeto Pascoal, seu grande mestre.
O álbum tem vários criadores-colaboradores, a partir da ideia de transdiciplinaridade arte-ciência-espiritualidade, resume Luiz, esclarecendo que espiritualidade nada tem a ver com religião. Entre eles está a fotógrafa e escritora Vanessa Basda, o designer Gal Oppido e o engenheiro de som e coprodutor Alexandre Fontanetti – o som do disco é espetacular. Mas que história é essa da capa identificar Luiz com Z e não Luiz Bueno? "É uma interrogação que fica", provoca. "Sei que estou fazendo uma coisa estranha. Mas feliz, 70 anos com energia de 17".
INTRANSIT, de Luiz com Z
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Antena
Pão de Queijo& Chimarrão
Pão de Queijo& Chimarrão é o título do ótimo álbum que o violonista Veco Marques e o gaiteiro Diego Dias lançam quinta-feira próxima (5/5) com show no Theatro São Pedro, em Porto Alegre. Trata-se de um tributo aos 50 anos do disco Clube da Esquina, em que os integrantes do Nenhum de Nós e da Vera Loca criam versões instrumentais de clássicos de Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes, Flávio Venturini e Samuel Rosa. O show terá alguns convidados especiais, como a Orquestra Rosariense.
Leila Maria
Leia Maria é muito mais do que "a Billie Holiday carioca", como ficou conhecida pela atuação na noite do Rio. Já com 40 anos de carreira, chegou ao Brasil graças a participação no programa de tevê The Voice+ em 2021. Ela acaba de lançar seu sexto álbum, o impactante Ubuntu, com canções de Djavan transfiguradas por uma sonoridade africana. Ao lado de instrumentistas brasileiros, participaram das gravações músicos de vários países da África. Gravadora Biscoito Fino.
Fernando Salem
Fernando Salem está lançando o quinto álbum solo, Trilhas do Amor. Desta vez, o ex-líder da Banda Vexame, que manja do choro ao rock, canta músicas românticas de Tom Jobim, Erasmo Carlos, Caetano Veloso, Johnny Alf, Fito Paez e outros, formando narrativas. Para quem não sabe ou não lembra, a Banda Vexame, que tinha entre os vocalistas a atriz Marisa Orth, fez grande sucesso na noite paulistana durante os anos 1990 com teatrais e hilariantes shows de música brega.
Marcio Celli
Marcio Celli reaparece com a gravação de uma música inédita de Wanderlei Falkemberg, compositor que marcou época na Porto Alegre da virada dos anos 1960/70 – como participante dos festivais universitários e shows como Uma Mordida na Flor. Wanderlei morreu em 2019 e deixou a canção Poesia Mordida, que recebeu letra de Maria Luiza Bitencourt. A gravação foi produzida por Jefferson Marx e está nas plataformas. Marcio vive atualmente em São Paulo, atuando na assessoria de Zizi Possi.