Mineiros de fé, grandes músicos, Chico Lobo e Makely Ka lançam novos discos, ambos focados na questão ambiental e na viola de 10 cordas, ambos com marcas diferenciais nas carreiras. Em O Tempo é Seu Irmão, 27º álbum em 40 anos de atividade, Lobo cerca-se de convidados que dão uma ideia de Brasil: o baiano Luiz Caldas, os gaúchos Kleiton & Kledir, a mato-grossense Tetê Espíndola, o pernambucano Sérgio Andrade (da Banda de Pau e Corda). Nascido em São João Del Rey, Lobo recebeu em 2021 a Medalha de Honra da Universidade Federal de Minas Gerais “por sua relevante atuação na cultura e na sociedade”.
São 10 lindas, melodiosas canções de observação da natureza e lamento pelos crimes que ela sofre. Apoiada na viola (e instrumentos como piano, violão, cellos, percussão, bateria, em cuidadosos arranjos), a voz forte de Lobo anda por matas, rios, estrelas, passarinhos, amores, sementes.
O álbum foi feito durante a pandemia. “A pandemia não é dissociada das mudanças climáticas e catástrofes ambientais”, diz Chico Lobo. “Tudo tem a ver com o relacionamento insano do homem com o meio ambiente.”
Já Makely Ka é mineiro por adoção, pois nasceu no Piauí. Também escritor, tem músicas gravadas por Lô Borges, Samuel Rosa, Ná Ozzetti e muitos mais.
Rio Aberto, quinto disco solo, difere dos anteriores por ser instrumental e criado em torno da viola. Começou a tocar o instrumento há três anos, durante uma viagem pelo Vale do Urucuia, nordeste de Minas. E se apaixonou. “Não sou de música instrumental, nem violeiro de fato, mas ao começar a compor, as músicas iam fluindo feito água e resolvi gravar”, conta. Vieram os rios, cada música tem o nome de um: Paracatu, Jequitai, Paraopeba, Carinhanha, das Velhas, Pardo, Doce...
São cursos d’água que costuram elementos da geografia, da história e da literatura, ligando, por exemplo, o sertão de Guimarães Rosa aos sertões de Euclides da Cunha, passando pelo universo místico de Elomar e pela tragédia dos rios devastados pela mineração. Mesmo que não se considere um violeiro, Makely já foi contaminado pelo feitiço da viola, como prova o disco. Toca muito, e com personalidade. Na maioria das 13 composições, tem a seu lado violão e/ou baixo e/ou violoncelo. Emocionante.
A música sertaneja de verdade é esta.