Em construção desde 2003, entre idas e vindas, o Multipalco Eva Sopher deve ter mais um espaço finalizado até o final deste ano. Trata-se do Teatro Oficina, que ocupará 250 m² do complexo cultural subterrâneo construído ao lado do Theatro São Pedro (TSP). Em paralelo, o Multipalco seguirá em obras, assim como o TSP — estima-se que o teatro fique fechado por dois anos, a partir de 2023, para reformas.
O passo importante para o início da conclusão do Teatro Oficina foi dado na última sexta-feira (17), quando a Fundação Theatro São Pedro, vinculada à Secretaria da Cultura do Estado, assinou contrato com a empresa vencedora da licitação, Capitaneo Engenharia, para a colocação do piso especial do espaço.
O presidente da Fundação, Antonio Hohlfeldt, explica que o piso é de madeira nobre, servindo também para amortecer o impacto de atores e dançarinos. Segundo Hohlfeldt, calcula-se que leve até dois meses para a madeira chegar a Porto Alegre. A partir daí, a obra deve ser concluída em um mês. A ideia é que o Teatro Oficina já esteja disponível para receber espetáculos do próximo Porto Verão Alegre.
— Nós estamos projetando que essa obra fique pronta entre novembro e dezembro. Vai depender agora mais da chegada da madeira para o piso do que qualquer outra coisa — ressalta o presidente da Fundação.
Com capacidade para até 200 espectadores, o Teatro Oficina será destinado à criação de espetáculos e propostas experimentais. Funcionará como um espaço vazio, que cada montagem ocupará conforme o seu conceito: poderá ter arquibancada, cadeira, ser uma arena, com plateia sentada no chão ou então em pé, entre outras possibilidades.
Em nota, a Fundação aponta que os recursos para essa obra são provenientes de convênio federal, firmado em 2018, com a Secretaria Especial da Cultura, órgão do Ministério do Turismo, e repassados pela Caixa Econômica Federal. A entidade também terá o aporte de R$ 7,5 milhões para investir nas obras do Multipalco, recursos que foram recebidos pelo Projeto Avançar na Cultura, do governo estadual.
Com essa verba do Estado, outros espaços do Multipalco deverão ser concluídos até o final de 2022: a Sala da Dança, a Sala do Circo, Salas Múltiplas e de formações artísticas. Até o momento, o complexo conta com praça, concha acústica e restaurante no piso superior. Também já funcionam no Multipalco a Sala da Música e o Centro de Formação Cultural, que recebe oficinas e aulas de música, dança e teatro. Nesta quarta-feira (22), a Sala da Música volta a receber o Musical Évora, a partir das 12h30min.
Por outro lado, a conclusão do Teatro Italiano, sala de espetáculos no formato tradicional com capacidade similar à do Theatro São Pedro, levará mais um tempo. O espaço será destinado a espetáculos teatrais, sinfônicos, musicais e de dança, além de abrigar plateia, mezanino e camarotes. Hohlfeldt afirma que as partes estruturais estão avançadas; porém, o custo maior a partir daqui serão os equipamentos de luz e som.
— Teríamos que utilizar uma tecnologia contemporânea, importada. Isso significa pagar em dólar ou euro, e, com o câmbio de hoje em dia, é uma loucura. É provável que entre 2023 e 2024 nós vamos avançar nesse projeto — acredita o presidente da Fundação.
Sobre a duração de quase 20 anos das obras do Multipalco, Hohlfeldt atribui o atraso a três fatores: inflação, saída do Estado de empresas que patrocinavam o projeto e uma crescente dificuldade da Associação Amigos do Theatro São Pedro em conseguir buscar a capitalização — a gestão anterior da organização foi investigada ano passado por desvio de recursos; em abril, Gilberto Schwartsmann foi eleito o novo presidente.
De acordo com Hohlfeldt, o objetivo agora é terminar a parte básica do Multipalco no ano que vem, visando a um futuro fechamento do Theatro São Pedro para reformas. Parte dos espetáculos do TSP poderiam passar para o Multipalco, mesmo que ainda não tenha o Teatro Italiano pronto.
Reformas e futura paralisação do TSP
Para os próximos anos, a perspectiva é que o Theatro São Pedro passe por reformas estruturais. Hohlfeldt destaca que há diferentes frentes captando recursos para melhorias no TSP. Uma das obras previstas é a troca da central térmica do prédio, que, segundo o presidente da Fundação, é antiga e está deixando de funcionar. É uma das mais antigas da cidade, inclusive.
Em agosto, o TSP conseguiu a autorização para a captação de recursos da Lei de Incentivo à Cultura, no valor de R$ 7,4 milhões, para a reforma. O projeto da obra foi apresentado ao então Ministério da Cultura em 2016, pela Associação. A proposta foi aprovada, mas não houve liberação para captação dos recursos.
A partir da autorização, a Associação passou a captar o total do valor liberado. Quem participou da iniciativa, por exemplo, foi a empresa Gerdau, com cerca de R$ 2 milhões. Outras empresas deverão ser procuradas. A validade do projeto de captação vai até 31 de dezembro. A previsão é que as obras referentes à central térmica levem de seis a 12 meses e que sejam realizadas sem o fechamento do teatro.
Por outro lado, Hohlfeldt destaca que a projeção inicial é que o TSP seja fechado por dois anos para realizar as obras de acessibilidade e do Plano de Prevenção e Proteção Contra Incêndio (PPCI). Isso seria a partir de 2023, com a parte básica do Multipalco já em funcionamento.
— Vamos tentar obviamente diminuir esse tempo, mas, por enquanto, a previsão é 24 meses. Teremos que tirar todas as poltronas, trocar o tapete do chão e todas as cortinas. Ao mesmo tempo, nós já vamos mexer no desenho da plateia. As primeiras filas vão ser para os cadeirantes. Nas laterais serão as poltronas para obesos. Onde hoje é a chapelaria, nós vamos ter um pequeno elevador — descreve o presidente da Fundação. — O projeto está pronto, estamos buscando verbas em várias fontes. Temos que esperar os resultados disso.