Que coisa horrorosa virou o Teatro de Câmara Túlio Piva. Passei ali na frente no domingo (11), na Rua da República, e vi um símbolo da antiga vibração cultural de Porto Alegre transformado em terreno baldio: mato alto, lixo, restos de obra, prédio em ruínas, um descaso total.
Faz sete anos que o Túlio Piva foi interditado por problemas estruturais – a prefeitura, dona do teatro, já prometeu reabri-lo em 2017, 2018, 2019 e 2020. Enquanto isso, abandonada, a pequena edificação que um dia abrigou grande parte do cenário artístico da Capital vai definhando cada vez mais.
O Túlio Piva foi inaugurado em 1970. Era o primeiro aparelho cultural da Secretaria Municipal de Cultura – ou seja, os artistas locais passaram a se inscrever em editais para se apresentar no teatro. Isso valorizou a produção daqui.
– Era um palco que, embora tivesse grandes limitações técnicas, foi fundamental para o teatro, a dança e a música do Rio Grande do Sul. Vi espetáculos antológicos no Túlio Piva – relembra o jornalista Roger Lerina.
Toda a boemia intelectual de Porto Alegre transitava por ali – inclusive nos bares que foram abrindo no entorno do teatrinho da Cidade Baixa. Lerina ressalta, aliás, que o formato do Túlio Piva, um espaço pequeno, para pouco mais de 200 pessoas, proporcionava à plateia uma experiência intensa de proximidade com os artistas:
– Era um ambiente aconchegante, um teatro de bolso. É triste ver um local tão importante para a nossa cultura ser negligenciado desse jeito.
Procurada pela coluna, a Secretaria Municipal de Cultura informou que a reforma do espaço começou no início de 2020, mas, com o avanço da pandemia, acabou suspensa dois meses depois. Foi aí que a Opinião Produtora – que, no ano anterior, ao vencer a licitação para administrar o Auditório Araújo Vianna, havia assumido também as obras do Túlio Piva – pediu mais tempo para a prefeitura.
– Como o setor de eventos está paralisado há mais de ano, eles alegaram que estão sem nenhuma entrada de recursos. Pediram, então, para retomar as obras assim que o setor de eventos voltar a operar – diz o coordenador de Economia Criativa da prefeitura, Alvaro Franco, reforçando que a empresa terá um ano, após o recomeço dos trabalhos, para entregar a reforma do teatro.
Um ano, portanto. Que agora seja o último.
Com Letícia Costa