No texto de apresentação de seu novo disco, Manacô, James Liberato explica que essa palavra indígena da tribo dos Kulina, no Amazonas, se refere a reciprocidade, ou solidariedade. “O projeto Manacô surgiu para consolidar uma relação de amizade e reciprocidade, a partir da ideia de gravar este trabalho com poucos recursos”, escreve, completando: “O que parecia impossível foi surgindo através do apoio de músicos maravilhosos, que dedicaram seu tempo e talento de forma desprendida”.
O resultado é um presente aos ouvidos viciados em música boa. O quarto disco do guitarrista, violonista e agora também bandolinista chega 14 anos depois do anterior. Mas valeu a pena esperar.
Sem favor, um dos grandes músicos do que se pode chamar de jazz brasileiro, compositor de sólidos recursos, James está em ação desde o finalzinho dos anos 1970 e soube construir uma carreira sempre ascendente em termos musicais. Quarenta anos de estrada não é pouca coisa, ainda mais em um cenário frequentemente pouco gratificante como o de Porto Alegre. Tem que ter determinação, o que não falta a ele. Acompanho o trabalho de James desde o início, escrevi sobre os outros três álbuns e me sinto à vontade para opinar que Manacô é o melhor de todos. Música madura e refinada feita em parceria com instrumentistas de alto nível, para ouvidos exigentes de qualquer parte do mundo.
Ecletismo
O disco começa com um choro de suaves ares nordestinos, Amor e Música, única cantada, com letra e voz de Anacris Bizarro. Manacô é uma sambossa. Nordestão, um baião. Oriental Wind tem ventos japoneses. Piazzollando traz milonga. Tem jazz mais explícito no samba Sete Chaves e na valsa Seis Por Outros.
São sete composições, duração média de 4m30s. Os músicos: Guilherme Goulart (acordeom), Luís Henrique New (teclados), Luiz Barcelos (bandolim), Everson Vargas e Dudu Penz (baixo), Cláudio Sander (sax), Fábio Venturella (violoncelo), Giovanni Berti e Fernando do Ó (percussão), Ronnie Martinez (bateria), João Rizzo (flugelhorn), Amauri Iablonovsky e Iasmine Dornelles (flauta).