Protagonistas da cena musical porto-alegrense desde os anos 1970/80, cada um em seu departamento, eles jamais poderiam imaginar que, por caprichos do destino, acabariam formando um trio. Tudo começou em 2013, quando Bebeto Alves e King Jim receberam transplante de fígado, e Jimi Joe, de rim. No ano seguinte, em 27 de setembro, Dia Nacional da Doação de Órgãos, eles estreavam no projeto Ecarta Musical a banda Los 3 Plantados. Bebeto conta:
— A ideia foi da Juliana Franzon, companheira do Jimi. Ele estava mal no hospital e ela procurou animá-lo, dizendo que eu e o King Jim já estávamos bem e que ele também iria ficar. E depois a gente até poderia formar uma banda para cantar sobre isso tudo.
De lá para cá, foram shows em vários locais com o repertório que iam compondo, todo referente ao tema doação e transplante de órgãos, “seja de forma metafórica, ou completamente literal”, pontua Luciano Albo, produtor do recém-lançado disco Alimente a Vida – que de certa forma resume a história como um manifesto para que as pessoas doem órgãos e salvem vidas, como as deles. Trecho da faixa-título: “Sei que é difícil falar sobre isso em família/ Mas é necessário tocar no assunto/ Os meus olhos podem ter a tua visão/ E no teu peito bater o meu coração”. Como essa, os três assinam juntos a maioria das músicas, que passam por folk, pop, rockabilly, rock’n’roll, samba-rock, balada e milonga.
É um trabalho pra cima, envolvente, acho que inédito no mundo. As músicas têm títulos como Planos, Bactérias, Nurses and Doctors, Sensível, INSS e O Melhor Instrumento é a Voz (meio beatle, meio hino, fecha o álbum). Mas todas valem também fora desse contexto. Além do mais, ao lado dos violões e guitarras de Bebeto e Jimi, do sax de King Jim (os três dividem os vocais) e dos vários instrumentos de Albo, está um espetacular time de convidados. Olha só: Biba Meira, César Audi, Claudio Mattos, Duca Leindecker, Humberto Gessinger, Leandro Schirmer, Luciano Leães, Lucio Dorfman, Luís Vagner, Luke Faro, Marcelo Corsetti, Renato Borghetti, Renato Mujeiko, Rodrigo Rheinheimer e Thomas Dreher.
Paulinho Parada canta Porto Alegre
Ele diz que este seu terceiro álbum, Onde Dorme o Sol, “é uma homenagem ao amor e à noite de Porto Alegre”. A noite a que o compositor, cantor, violonista, pianista e pesquisador Paulinho Parada se refere tem muito a ver com a tradição de Lupicínio, uma de suas influências, e de seu ídolo Plauto Cruz. Mestre em Música pela UFRGS, Paulinho organizou o acervo do maior flautista, publicou um livro com 52 partituras e teve oportunidade de apresentar seu trabalho em etnomusicologia sobre Plauto no Conservatório Central de Pequim. Não é pouca coisa. Mas ele começou cedo: aos 29 anos, já tem uns 12 de carreira. E o novo disco, trabalho amadurecido, mostra ambições maiores.
O samba-choro Existir é Lembrar abre o álbum – expressiva, a voz de Paulinho tem linha própria. O samba Paixão, que já faz sucesso nas redes, afirma sua inspiração nas melodias. Com um ritmo gaúcho, Boniteza tem coro de crianças e a voz de Valéria Houston, letra sobre a importância da educação. Sangue no Olho é milonga pura, assim como Lembranças de Inverno é puro bolero. O samba A Velha Guarda, homenageia músicos históricos da capital gaúcha. E Balada para Porto Alegre, em espanhol, mistura recitação e tango, com a voz de Raul Iturria. Grandes músicos no disco, como Luizinho Santos, Carlitos Magallanes, Dúnia Elias, Gian Becker, Sandro Bonato, Alemão Charles, Silfarnei Alves, Christian Silva.