O Grêmio tinha um sonho - queria um estádio novo. Mas não tinha recursos suficientes para construí-lo. OAS foi chamada. Com recursos próprios - em torno de 400 milhões - e mais financiamento - R$ 230 milhões - a construtora faria o estádio e um centro de treinamentos.
Ao final da obra, Grêmio se tornaria dono da Arena e entregaria o Olímpico. Porém, a OAS colocou o novo estádio como garantia se não pagasse os bancos. A direção que assumia - saia Paulo Odone e entrava Fábio Koff - não concordou. A construtora tentou apresentar outras garantias, mas a crise que a atingiu impediu que ela viesse a conseguir capacidade de novos endividamentos. Surgia, assim, o primeiro grande impasse.
O segundo foi ocasionado pelas obras do entorno da Arena do Grêmio. A prefeitura de Porto Alegre se meteu onde não devia. Assumiu obrigações que seriam da empresa. O Ministério Público interveio e a administração municipal recuou. Um acordo chegou a ser firmado em 2021, que proporcionaria que o Grêmio assumisse a propriedade e gestão da Arena e entregasse, enfim, o Olímpico. Mas o receio do clube de ser responsabilizado pelas obras do entorno do novo estádio acabou travando as negociações.
O Grêmio traz outros argumentos sobre os motivos que fizeram o o negócio ainda não ter sido fechado.
- A transação não foi concluída preponderantemente porque após a celebração do acordo judicial de 2021 o Grupo Metha realizou uma reestruturação de ativos que, sendo a própria empresa, faz com que ela não esteja mais apta a concluir a transação nos moldes negociados com o Grêmio - destaca o CEO do clube, Carlos Amodeo.
A seguir, elenco uma série de perguntas e respostas sobre o tema. O objetivo é esclarecer as principais dúvidas sobre essa enrolada negociação:
De quem é o estádio Olímpico?
Do Grêmio
De quem é a Arena?
A propriedade é da Karagounis e da OAS26. A gestão é da Arena Porto Alegrense, empresa do grupo Metha.
Quem são os futuros donos do Olímpico? Karagounis e OAS 26. Elas são as proprietárias da Arena e estão comprometidas por contrato em permutar a Arena com o Olímpico. As duas empresas eram da OAS, mas foram vendidas. Atualmente, 80% dos donos da Karagounis são investidores do Fundo de Investimento do FGTS, da Caixa - o FI-FGTS. Os 20% restantes são de propriedade do grupo Metha.
Quem é a Metha?
É o novo nome da OAS, que teve a razão social alterada após plano de recuperação judicial, aprovado na Justiça de São Paulo em 2015
Quem é a Arena Porto Alegrense?
É uma empresa que foi criada pelo grupo Metha - antes OAS - para fazer a gestão do estádio por 20 anos. Prazo conta a partir de dezembro de 2012.
Onde surge o primeiro impasse?
Em abril 2012, a prefeitura anuncia que assumiria as obras do entorno da Arena, que eram de competência da OAS. Após pressão do Ministério Público, em novembro de 2014, prefeitura revê posicionamento. A construtora até chegou a iniciar as intervenções, mas parou de cumprir suas obrigações a partir de outubro de 2015, já em meio a crise ocasionada pelos escândalos da Lava-Jato..
Quem é o responsável pelas obras do entorno da Arena?
A Metha. A empresa sabe que precisa executar as melhorias. Mas as intervenções não estão entre as suas prioridades de execução, conforme determina o plano de recuperação judicial. Prefeitura e Ministério Público tentam, na Justiça, que as intervenções sejam tratadas como uma dívida fiscal, que não se sujeita a lista de prioridades da recuperação judicial
O que será construído no estádio Olímpico?
A Karagounis irá construir prédios residenciais. A OAS 26 quer um empreendimento comercial. A Companhia Zaffari já chegou a manifestar interesse pela parte do terreno da OAS 26.
Por que a demolição do Olímpico parou?
O Grêmio autorizou a demolição, mesmo ainda não tendo se mudado totalmente para o bairro Farrapos. Porém, quando identificou que poderia sair prejudicado, o clube determinou a suspensão do desmonte do Olímpico.
Por que Grêmio não entregou o Olímpico?
Quando construiu a Arena - parte com recursos próprios e outra com financiamento de bancos - a OAS colocou sua nova construção como garantia, caso não honrasse com os pagamentos. Ao assumir a direção do Grêmio, Fábio Koff, teme entregar Olímpico e perder a Arena para os bancos. O acordo então é suspenso.
O que prevê o acordo judicial, de abril de 2021?
O Grêmio assumiria a propriedade e a gestão da Arena. E entregaria o estádio Olímpico. O valor que hoje paga referente ao uso da Arena pelos sócios - em torno de R$ 1,8 milhão por mês - seria repassado para a Arena Porto Alegrense. Com este recurso, a empresa executaria as obras do entorno.
Por que acordo não evoluiu?
Quando chegou na hora de assumir a gestão da Arena, Grêmio não prosseguiu com interesse em seguir com a negociação. O Grêmio informa que a transação não foi concluída porque, após a celebração do acordo judicial, o Grupo Metha realizou uma reestruturação que não o deixou mais apto a concluir a transação nos moldes negociados com o clube.
Grêmio pode vender Olímpico e dinheiro ser usado para obras no entorno?
Poder, pode. Mas, certamente, ele será responsabilizado judicialmente por isso, pois há um contrato onde ele já se compromete a passar a área para Karagounis e OAS 26.
Prefeitura pode desapropriar Olímpico?
Pode. Ela precisa comunicar que a área é de interesse do município. Mas, para isso, ela precisará indenizar os donos.
Se pode desapropriar o Olímpico, por que a prefeitura quer diminuir o valor do terreno?
Se as obras não começarem em um ano, o prefeito Sebastião Melo quer tirar o regime urbanístico do terreno. É uma forma de pressão para que as partes envolvidas solucionem os impasses.
No atual impasse, o que acontece com a Arena a partir de dezembro de 2032?
A empresa Arena Porto Alegrense deixa de gerir o estádio. Arena fica sob responsabilidade da Karagounis e OAS 26. A situação pode mudar, se o Grêmio entregar o Olímpico. Quando isso ocorrer, ele se torna o dono, mesmo tendo a Arena Porto Alegrense como gestora.