Prevista pra a Copa de 2014, a maior obra em tamanho e orçamento de Porto Alegre está com os dias contados. A duplicação da Avenida Tronco avança.
Dos 6,5 quilômetros, 5,2 quilômetros já estão em uso. Isso representa 80,46% do traçado definitivo pronto.
As últimas liberações de trechos para os veículos ocorreram em maio e junho. Foram entregues 430 metros para circulação.
Do total, dois trechos ainda estão em obras. Um deles está localizado na região que envolve a Avenida Icaraí, Rua Ursa Maior e Rua Cruzeiro do Sul, no bairro Cristal. São 220 metros em execução, que deverão ficar prontos até agosto.
O outro trecho em obras envolve 1,05 quilômetro, no bairro Medianeira. Está sendo construída uma rótula na Avenida Carlos Barbosa, envolvendo a Avenida Moab Caldas e Rua Sepé Tiarajú. Além disso, a duplicação está avançando pela Avenida Silva Paes. Essa parte da construção é prevista para ser finalizada em dezembro.
- Apesar de estar 80% pronta, a duplicação da Tronco ainda não está funcional (sendo usada a pleno). Pretendemos melhor muito a mobilidade da cidade e nessa região, além da mobilidade, foi feita toda uma remodelação da drenagem e da coleta do esgoto - destaca o secretário André Flores.
Ainda que os principais serviços sejam executados até o fim do ano, algumas obras às margens da via deverão seguir em 2023. A expectativa é que toda a duplicação seja considerada finalizada em março.
Transferência de moradores
Um dos grandes motivos pelo atraso na execução dos trabalhos foi a necessidade de realocar 1.470 famílias, que residiam no traçado da duplicação. A última mudança só foi realizada em 2022.
Em fevereiro, a família de Sandra Maria da Rosa, 66 anos - composta pelo marido, filhos, genros, noras, netos e bisnetos -, conseguiu se transferir para uma residência no mesmo bairro - Medianeira. Também conhecida na região como Mãe Sandra do Bará, ela está feliz com o novo endereço. Com um bônus-moradia, uma nova casa foi adquirida há duas quadras do antigo imóvel.
A casa de alvenaria, com dois pisos, tem as caixas com pertences que ainda não ganharam espaço definitivo. Numa peça que era uma garagem Mãe Sandra montou um espaço provisório de religião. Nele joga os búzios para quem pede, mas ainda não consegue fazer as celebrações que anseia.
No segundo andar da casa ficam os quartos onde dormem entre 10 e 15 pessoas por dia. "Sempre têm aqueles que não são filhos de sangue que estão desamparados", diz Mãe Sandra ao justificar porque é difícil saber quantos ocupam a nova residência.
No meio do terreno, uma ampla peça espera reforma para ser o salão das atividades da Unidade Territorial Tradicional de Matriz Africana. Nos fundos, há mais edificações que vão virar moradia para outros filhos. Apesar do espaço improvisado, mãe Sandra está feliz e recuperando parte dos 40 quilos que chegou a perder pela ansiedade.
- Tenho noites boas de sono. Não tenho mais preocupação. Estou muito bem. Fui bem acolhida. Perdi 40 quilos. Tive um stress terrível. De dez em dez dias me aparecia uma oficial na frente da minha casa. Fora a CEEE que ia tirar meu poste, o Dmae que ia tirar meu relógio. Como já estou com uma certa idade aquilo tudo incomoda. Fui emagrecendo. Mas agora estou bem, graças a Deus. Vou pro meu samba. Vou pro meu pagode. Agora estou bem - comemora a moradora, que nunca cogitou deixar o bairro Medianeira.
Parte das famílias transferidas ainda estão em endereços provisórios, recebendo aluguel-social. Recentemente, a Secretaria Municipal de Habitação e Regularização Fundiária anunciou que o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) selecionou Porto Alegre para receber três conjuntos habitacionais do Fundo de Arrendamento Residencial (FAR). Serão construídas 352 unidades que vão beneficiar, principalmente, este grupo.
- Enquanto não houver o assentamento de todas as famílias, a obra, de alguma forma, estará inconclusa. Temos cerca de 550 famílias que ainda precisam de atendimento definitivo. Temos perspectiva de construção muito próxima. Esses financiamentos foram aprovados pelo Ministério do Desenvolvimento Regional. Estamos em fase de conclusão da documentação necessária, para que esses contratos sejam assinados e para, já no início do próximo ano, começar a obra com a empresa responsável - destaca o secretário André Machado.
A maior obra da Copa em Porto Alegre
A duplicação da Avenida Tronco começou em março de 2012 e deveria ter sido entregue até junho de 2014. Estão sendo investidos R$ 129 milhões somente na duplicação, sendo assim a construção que mais exigiu recursos.
A construção parou em outubro de 2016, por falta de recursos. Os serviços foram retomados em junho de 2018 e suspensos em julho de 2019, pelos mesmos motivos. Em fevereiro de 2020, a obra recomeçou para não mais parar. Além da duplicação, a obra prevê drenagem, implantação de corredores de ônibus, ciclovia, sinalização e nova iluminação pública.