Os passageiros do Trensurb precisarão esperar um tempo ainda maior para conseguirem ver os 15 novos veículos em uso. Comprados em 2014, ao custo de R$ 244 milhões, os trens da série 200 voltaram a apresentar falhas.
A primeira delas surgiu há dois meses, antes sequer do problema anterior - de rolamentos - tivesse sido resolvido na sua totalidade. A dificuldade foi encontrada quando dois trens, com quatro vagões cada, eram conectados.
- Ficava alertando que o sistema de freios não estava de acordo, apesar de não apresentarem problema - relato o diretor-presidente da Trensurb, Pedro Bisch Neto.
Segundo a Trensurb, as falhas identificadas são cobertas pela garantia e estão sendo solucionadas pelo Consórcio FrotaPoa, formado pelas empresas Alstom e CAF. Das 15 falhas apresentadas, o problema já caiu pela metade e a expectativa de Bisch Neto é que tudo esteja resolvido até o fim do ano.
Os veículos acoplados têm sido usado pela Trensurb como forma de dar mais comodidade aos usuários, e, durante a pandemia, proporciona maior distanciamento entre os passageiros. Porém, apenas os trens antigos, da série 100, é que poderiam ter oito vagões por viagem.
Um outro problema foi identificado mais recentemente. Uma falha em bobinas de alguns vagões ocasionava o curto-circuito e a impossibilidade dos veículos iniciarem as viagens.
- O nível dos trens da série 200 é de primeiro mundo. Não perde para os de Dubai - defende Bisch Neto, que, desde que assumiu a presidência da Trensurb, em março de 2020, tem buscado pacificar as relações, chamou os responsáveis pela construção dos veículos para a mesa de negociação e tem procurado resolver, de vez, o problema.
O consórcio respondeu para a Trensurb que apresentará um cronograma de reparo dos veículos. Procuradas pela coluna, as empresas Alstom e CAF destacaram que estão atuando no reparo dos trens que atendem a população.
"Existem processos de melhorias operacionais em curso para alguns trens e todas as medidas necessárias, tanto pelo Consórcio como pela Trensurb, para o pronto restabelecimento operacional destas unidades, já foram tomadas", informou a assessoria do consórcio por meio de nota.
A primeira falha
Comprados por R$ 244 milhões, a frota entrou em operação a partir de setembro de 2014. Os truques foram feitos na Espanha pela CAF e as carrocerias, montadas na fábrica da Alstom em São Paulo. Desde que chegaram a Porto Alegre, os veículos ficaram fora de circulação em pelo menos três oportunidades.
A primeira vez foi em abril de 2015 quando um dos veículos, o carro 234, descarrilou entre as Estações Farrapos e São Pedro, enquanto fazia uma viagem sem passageiros. O carro 234 ficou um ano e sete meses fora de operação – os demais retornaram 41 dias após o incidente.
O maior dos problemas
Em abril de 2016, problemas de infiltração de água nos rolamentos de alguns dos novos trens fizeram que a frota fosse retirada de operação pela segunda vez. Os veículos só voltaram a funcionar na sua quase totalidade. Em fevereiro de 2019, 13 estiveram disponíveis para compor a frota.
O retorno
No fim de 2019, parte dos trens da série 200 precisaram ser colocados novamente fora de operação por apresentarem falhas de fabricação, como problema de nivelamento e trinca no suporte da biela. Ambos foram problemas no truque do trem, plataforma sobre a qual a carroceria é assentada.
A trinca no suporte da biela foi uma imperfeição do veículo que, até então, não havia sido identificado pelos técnicos da Trensurb. Dos 60 vagões, 32 já estão totalmente consertados e o consórcio FrotaPoa tem cumprido com o recall combinado.
Empresas multadas
As empresas Alstom e Caf foram penalizadas em R$ 7,38 milhões. O valor é referente aos gastos adicionais que a Trensurb teve com o consumo maior de energia elétrica entre abril de 2016 e dezembro de 2018. Além disso, as empresas já haviam sido multadas em R$ 7,34 milhões por não terem entregue os veículos no prazo previsto.
O valor atualizado em 2019 apontava uma dívida de R$ 14,72 milhões que o consórcio tinha com a Trensurb. Como há ainda valores que não foram quitados pela empresa pública com os construtores, parte das multas - R$ 7,34 milhões - será abatida do montante a ser pago. O restante - R$ 7,38 milhões - será cobrado por meio de notificação extrajudicial.
Como a Trensurb deve aproximadamente R$ 17 milhões pela compra dos novos trens, o cálculo aponta que a dívida da autarquia é de R$ 2,28 milhões. Neste momento, porém, não há informação sobre quando este saldo será quitado.