Mais uma promessa descumprida. Não será em março que a população conseguirá usufruir de alguma benfeitoria na área do Cais Mauá, no Centro Histórico, em Porto Alegre.
Em 5 de fevereiro, o prefeito Nelson Marchezan anunciou que havia validado a alteração do cronograma de obra que previa um projeto-piloto para o espaço. A área de 40 mil metros quadrados junto à Usina do Gasômetro terá área de gastronomia, lojas, espaços para ginástica e prática de esportes.
No dia 26 de março, no aniversário de 247 anos da cidade, alguma entrega provisória ocorreria, segundo o que foi anunciado. Porém, na quinta-feira (14), a prefeitura divulgou a programação prevista para a semana de aniversário e as melhorias do cais não estavam relacionadas.
A coluna apurou que investidores esperaram a aprovação do projeto-arquitetônico, que só foi concedido em 8 de março, para poder ter certeza de que o negócio seria viabilizado. Sem essa autorização, não seria possível, por exemplo, instalar contêineres próximo ao armazém A7.
"O empreendedor, em consenso com o poder público, preferiu não sacrificar a qualidade do projeto, sobretudo o atendimento de todas as regras, que garantem a segurança jurídica do processo e da comunidade em nome de abreviar os prazos necessários", diz o consórcio Cais Mauá do Brasil, que se manifestou por meio de nota nesta sexta-feira (15).
Também foi informado pelo consórcio que houve o surgimento de imprevistos durante a inspeção dos trabalhos. Além disso, foi identificada a necessidade de construir as redes de esgoto, elétrica e hidráulica, que hoje não existem no local.
Segundo o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, o consórcio tinha todas as licenças aprovadas para realizar as benfeitorias necessárias. Eduardo Cidade lembra que, em 22 de fevereiro, a prefeitura comunicou a Cais Mauá do Brasil que o projeto arquitetônico seria aprovado. Ele ressalta que a espera pelo carimbo oficial, que veio duas semanas depois, não pode ser usado como justificativa pelo consórcio para não entregar o que prometeu.
— Tanto não está vinculada que as obras começaram ainda em fevereiro. O cronograma de obras é de responsabilidade deles (consórcio). A prefeitura não tem como interferir — destaca Cidade.
A prefeitura alega que não houve atraso na avaliação do projeto. Do momento que foi protocolado até a aprovação, passaram-se 22 dias, prazo considerado rápido pela administração municipal.
A ideia do projeto-piloto permanece, mas hoje a Cais Mauá do Brasil informa que os prazos estão sendo revistos e, em breve, será feira a divulgação oficial. As empresas DC Set e Tornak Participações e Investimentos já foram contratadas. Elas poderão administrar o espaço por quatro anos. Por ser um uso temporário, os espaços comerciais e de lazer serão montados em contêineres. Os seis pavilhões que formam o armazém A7 (não tombado) serão pintados e servirão de apoio para a área de gastronomia. Outra empresa ficará responsável por administrar os dois estacionamentos, que oferecerão 600 vagas.
Paralelamente a isso, o consórcio está realizando o desenvolvimento do projeto original, de restauração dos armazéns. A fase um envolve os 11 armazéns tombados e já conta com as licenças necessárias para o começo das obras. A restauração dos armazéns será realizada por etapas, assim que a comercialização for sendo definida.
Esta área mais próxima do Gasômetro, que será entregue de forma temporária, integra a fase dois do projeto, que originalmente prevê um shopping, ainda depende das licenças definitivas para ser executada, assim como a terceira etapa, que envolve área mais próxima à Rodoviária de Porto Alegre. A execução das três fases tem um gasto estimado em R$ 600 milhões.
Longa espera
A concessão do cais por 25 anos foi assinada em 2010, durante o governo Yeda Crusius. Somente em dezembro de 2017, as licenças necessárias para a construção da primeira parte do empreendimento foram concedidas. Em fevereiro de 2018, a ordem de início das obras foi assinada. A área chegou a ser limpa e cercada, mas uma operação da Polícia Federal envolvendo antigos gestores espantou investidores, motivou novas trocas de diretoria e interrompeu os trabalhos.
Leia a íntegra da nota divulgada pela Cais Mauá do Brasil:
O projeto do Cais Mauá, que colocará Porto Alegre no patamar das principais capitais mundiais, envolve uma grande complexidade de obras, cumprimentos contratuais e de legislações, que tornam a sua realização, extremamente, trabalhosa.
Era intenção do empreendedor e da Prefeitura lançar um projeto piloto no aniversário da cidade. Contudo, as intervenções em ambiente tombado com todas as suas restrições, e o surgimento de imprevistos estruturais na área, que exigem obras de esgoto, elétrica e hidráulica, impossibilitou tal entrega nesta data.
O empreendedor, em consenso com o poder público, preferiu não sacrificar a qualidade do projeto, sobretudo o atendimento de todas as regras, que garantem a segurança jurídica do processo e da comunidade em nome de abreviar os prazos necessários.
O Cais Mauá do Brasil S.A trabalha com a perspectiva de que oferecer à população de nossa Capital os padrões de excelência internacional do projeto é mais importante do que a aceleração do cronograma de instalação. Ele está sendo revisto e, brevemente, será divulgado.