"Vencedores não são pessoas que nunca falham, são pessoas que nunca desistem." (Edwin Louis Cole)
O Curso A Medicina da Pessoa, promovido pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), com o apoio do Centro de Ensino e Pesquisa da Santa Casa, Simers e Cremers, tem a perspectiva de estimular a inteligência emocional, para que o médico jovem possa utilizá-la a seu favor no cuidado dos pacientes, sempre ávidos de afeto. Não se tem nenhuma intenção de doutrinar quem quer que seja, até porque seria mais que ingenuidade, depois de 50 anos de magistério, supor que se possa modificar a conduta afetiva de adultos, ou seja, esses tipos plenos de convicções e certezas.
O apoio anunciado a esse curso por 31 das melhores faculdades médicas do Brasil propiciou a inscrição de 929 alunos, o que é, em princípio, gratificante. Mas se analisarmos a relação entre o número de alunos matriculados nas faculdades de origem e os inscritos no curso, concluiremos que o Medicina da Pessoa pode ser visto pelos de pouca fé como uma quinquilharia afetiva que encanta a modestos 5% de abnegados.
Não se pode pretender mudar a relação médico/paciente se o médico não for capaz de se envolver com sentimento de quem adoeceu, visando dar a ele a incomparável sensação de apoio e acolhimento.
Como o curso é online, gratuito e ocupa apenas duas horas por mês, o baixo percentual de anuência traduz de maneira objetiva a pífia convicção dos docentes dessas escolas quanto à vantagem da qualificação humanística dessa legião de jovens idealistas, mas carentes de orientação efetiva, e que dentro de pouco tempo estarão manejando, com assustadora autonomia, a vida de pessoas fragilizadas pela chocante descoberta de que morrer não é menos do que uma certeza à espera de uma oportunidade.
Creio, firmemente, que não se pode pretender mudar a relação médico/paciente se o médico não for capaz de se envolver com sentimento de quem adoeceu, visando dar a ele a incomparável sensação de apoio e acolhimento.
É emblemático que esse tema, levado para intimidade da sala de aula, instantaneamente produza uma divisória de atitudes entre os que se encantam com a maravilhosa função de cuidar do outro e aqueles que não se misturam e podem manter um relacionamento cordial, mas com a frieza da formalidade, que afasta qualquer promessa de envolvimento afetivo. Muitos dirão que a preservação da impessoalidade e da neutralidade não impede que se ofereça uma assistência médica tecnicamente qualificada, desde que seja compatível, é claro, com os atendimentos relâmpagos e as relações humanas superficiais e fugidias. E, por consequência, com finais de semana sossegados.
Felizmente, existe um percentual de médicos de verdade, que se ocupam de entender qual a verdadeira carência dos pacientes e se sentem estimulados com isso, porque descobriram o quanto é gratificante o retorno afetuoso que brota espontaneamente do coração de quem se sentiu acolhido no momento difícil e assustador da doença.
Enquanto isso, os rígidos de afeto seguem pela vida, descomprometidos com os dramas do paciente. Na busca de algum estímulo, que é indispensável para manter o coração batendo, não importa se a ritmo lento, desviam o foco para o ganho financeiro, convictos de que isso lhes bastará para envelhecer sem sobressaltos. E, sem perceber, elegem a pretensa paz da desocupação como justificativa para sair da cama todos os dias sem um objetivo definido e, ao se espreguiçar, ainda assumir, sem remorso, que o desperdício de tempo é um privilégio da velhice.
A população mais humilde, dependente da saúde pública, já está desapontada com a vileza do atendimento que recebe, mas nem suspeita do tamanho da piora plantada no horizonte pela ganância e irresponsabilidade dos que deviam proteger a formação dos médicos do amanhã, que estão sendo gerados aos borbotões em cursos fraudulentos. A sociedade brasileira vai pagar esse preço num futuro muito próximo.
Verdade que ter essa noção só aumenta a gana de persistir e afasta qualquer possibilidade de desistência. Porque, afinal, sempre soubemos em nome de quem continuaremos.