De acordo com a psicologia moderna, inteligência emocional é a capacidade de identificar e lidar com emoções e sentimentos, nossos e dos outros. Atribui-se a Darwin a primeira referência a essa forma diferenciada de inteligência, ainda que ele tenha se referido a ela como “expressão emocional”.
O principal autor que organizou conceitos e hierarquizou critérios de reconhecimento foi Daniel Goleman, no seu famoso best-seller Inteligência Emocional, de 1995. O autor apresentou resultados de novos estudos sobre a mente humana, associando diversos aspectos da nossa personalidade às habilidades cognitivas. Entre as suas principais contribuições técnicas, está a criação do conceito de Quociente Emocional (QE), que funcionaria como um complemento ao Quociente de Inteligência (QI). Segundo ele, a capacidade de uma pessoa de lidar com suas emoções é muito mais importante que a sua competência de processar informações.
É conhecida a experiência de empresas que, ao selecionarem candidatos a postos de executivos, incluíam entre as perguntas formais algum relato que envolvia emoção para avaliar a reação dos entrevistados. Estes ignoravam que um poderoso zoom estava de tocaia a flagrar os olhos secos, que deviam ser sumariamente eliminados. Ora, se inteligência emocional é festejada como um pré-requisito de quem pretenda interagir positivamente com colegas ou comandados, ajudando-os a alcançar um equilíbrio harmonioso no microcosmo que eles frequentam, imagine-se então que o alvo dessa dependência seja um paciente, com necessidades e carências dos seres humanos normais, acrescido da angústia do sofrimento, e do medo do desconhecido. E concluiremos que não há nenhuma atividade humana tão exigente de inteligência emocional quanto a medicina.
Durante boa parte da minha formação médica, ouvi professores de renome recomendarem que devíamos manter uma certa distância dos sentimentos dos pacientes para que não comprometêssemos a neutralidade indispensável nas tomadas de decisão. Demorei anos para perceber que estávamos diante de uns rígidos de afeto, aliviados por terem encontrado uma justificativa tola para a irrecuperável falta de empatia. Como ocorre com todas as mudanças de comportamento, uma das tarefas mais desafiadoras da espécie humana, foram necessários muitos anos para que se percebessem os equívocos e se recrutassem consciência e coragem para mudar o rumo. Sem contar que, não raro, estes atributos só são despertados pela chegada de novos desafios, como tem ocorrido na última década com os progressos desconcertantes da inteligência artificial, e a certeza que quem não se adequar os novos tempos será atropelado por ela.
Não se sabe quantos médicos do futuro serão desempregados, mas depois que se aprendeu que o ponto fraco da medicina robotizada é lidar com os sentimentos humanos, porque esses, pela subjetividade das informações, não se consegue incluí-los fluxogramas que alimentam a máquina, ficou fácil identificar os profissionais que serão precocemente substituídos pelo robô: aqueles que, por rigidez afetiva, mais se pareçam com ele.
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No próximo dia 20, as 19h, no Centro Histórico e Cultural da Santa Casa, promoveremos a sessão “As muitas vozes da esperança”, com seis vozes poderosas. Depois disso, teremos a sessão de autógrafos do livro De Novo e Sempre a Esperança (L&PM, 2022). Vai ser um prazer recebê-los. O ingresso é gratuito.