Claro que sempre haverá os insatisfeitos. A infelicidade crônica, por qualquer razão, alimenta este tipo casmurro e refratário ao convívio harmonioso. Mas, quando metade da população está inconsolável, não parece sensato pretender a contenção dos ânimos ameaçando-a. Ou, mais ainda, acusando-os de antidemocráticos, quando a reivindicação de esclarecimentos é uma marca exclusiva da democracia, único regime que concede esse direito.
O certo é que a sucessão de arrogâncias só serviu para construir este grande muro que separa o brasileiro comum das autoridades, o que explica em grande medida a dificuldade que os ungidos do poder têm de andar na rua. E naturalmente a ojeriza aos voos de carreira.
O que mais inquieta as cabeças pensantes e isentas é a permanência da desconfiança em todas as esferas, mesmo nas declarações mais singelas que são sistematicamente rotuladas como ameaças ao Estado de direito nas redes sociais. Mesmo que todos admitam que rede social, por aceitar tudo o que é jogado lá, assumiu a condição de grande lata do lixo da comunicação moderna. Frequentar essa praia é começar o dia contaminado e furioso, especialmente depois que se estabeleceu, sem margem de negociação, que todo solidário é comunista e todo conservador é fascista.
Para que ninguém seja induzido a pensar que a política é o único terreno da discórdia, um convite a uma investigação simples, sem urnas eletrônicas não auditáveis, ao fim da qual, no máximo serás rotulado de otário. Vamos a ela.
Se o caro leitor conhece muitas pessoas com mais de 65 anos, e entre elas, esses tipos que por índole protecionista desde cedo trataram de investir na segurança futura de sua família, por favor, participe dessa pesquisa, porque este assunto é, ou será, objeto de seu interesse no futuro próximo.
Esta proposta tem a intenção de trazer alguma luz à escuridão, observada amiúde, no beco da relação espúria com os segurados. Para a nossa pesquisa, recomendamos que escolham um momento em que os entrevistados pareçam emocionalmente confortáveis, e perguntem, em um tom de voz que não sugira provocação ou deboche, o que eles pensam dos planos de seguro privado no Brasil. É chocante a frequência com que, depois de décadas de contribuição, o segurado é comunicado da abertura do processo de recuperação judicial da empresa, e isso significa, com a honrosa exceção da diretoria e dos amigos do rei, que todos perderão.
Nessa situação, a falta de proteção governamental para o cidadão comum encaminha-o inexoravelmente para o brete dos otários, que representam, como se sabe, a matéria-prima para a gênese da vigarice. A naturalidade com que essa iniquidade se repete constrói a repulsa que estimula a debandada. Afinal, não há muito o que esperar de um país em que a população de maior qualificação intelectual é formada por jovens desencantados, que só pensam em emigrar, e velhos arrependidos de não tê-lo feito antes, quando ainda havia tempo para a reconstrução da autoestima.