Quando jovens, e por consequência imaturos, estávamos sempre em conflito com os inseguros, esses tipos pusilânimes (acho que naquela época, mais toscos do que hoje, os chamávamos de frouxos), esses enrolados em quem sabe, depende, talvez, pode ser que não seja bem assim, melhor aguardar um tempo antes de decidir. Como se não tivessem cérebro, esse apêndice tão exuberante em nossas cabeças feitas para pensar.
E o conflito era, como sempre, desencadeado pela descoberta desses obtusos que não comungavam das nossas crenças, por mais óbvias que elas fossem. Na nossa opinião inteligente e isenta, claro.
Mas os embates eram menos truculentos porque se limitavam a discussões em ambientes restritos, que tornavam os desacatos bem menos frequentes, porque a nossa cara e a do desacatado continuariam ao alcance das mãos respectivas, nos dias e semanas que se seguiriam. A proximidade e o olhar crítico dos circundantes, muitas vezes amigos de ambos, era claramente um antídoto poderoso à grosseria.
O que somos agora serve apenas como base para aquilo que seremos amanhã.
Com a chegada da internet, o mundo foi transformado num imenso boteco, onde ninguém conhece ninguém, e então a bravata foi liberada. E os covardes, que escorreriam pela perna se encontrassem frente a frente o seu "inimigo" circunstancial, se transformaram em heróis, louvados por milhares de seguidores desocupados e ansiosos por quem soubesse aplicar um corretivo naquele que ousasse expor uma opinião diferente da tribo.
E assim brotaram os valentões, vitaminados por décadas de vida frustrada, à espera de uma oportunidade para tentar recompor com reles vingança o que sobrou de autoestima estilhaçada pelo convívio diário com a mediocridade.
Mas a construção de uma sociedade melhor não pode se deixar levar por rompantes de imaturidade, que impliquem em retrocesso, expresso na sua forma mais primitiva pela violência.
A violência, como atitude física, se revelou menos frequente, por ser limitada ao mundo real, onde a covardia amordaça o covarde, protegendo-o da humilhação presencial, mas se torna extremamente maligna no mundo virtual, que liberta o agressor das amarras do medo, liberando-o para ser o idiota ilimitado, que atinge seu ápice em épocas de radicalização raivosa.
Cumprido este ciclo, espera-se que o tempo seja um eficaz solvente do ódio e possamos recuperar a consciência de que o ser humano é uma obra eternamente inacabada, em construção. O que somos agora serve apenas como base para aquilo que seremos amanhã. Cada nova experiência, boa ou ruim, acrescenta algo em nós, que pode nos ajudar ou atrapalhar, mas que, de qualquer modo, faz parte do que somos (Puig, 1995).
Nesta reconstrução, não podemos perder tempo com a fantasia tola de que algum governante sozinho possa, efetivamente, mudar as nossas vidas. Seria ingenuidade demais.
Mas isso não nos isenta da responsabilidade de fazer escolhas, quando o que está em jogo é muito maior do que a questão da simpatia pessoal. Podemos repelir um ou os dois candidatos, mas o que vamos decidir é o modelo que eles representam. A liberdade de escolha é uma das maravilhas da verdadeira democracia, único regime que assegura este direito. Cabe-nos fazer desse privilégio um dever, que idealmente deva incluir os 32,2 milhões de omissos que ficaram em casa no primeiro turno, como se o país não fosse deles também.
Então, vença a inércia, saia de casa e ofereça uma chance ao seu país. Isso lhe dará, ao menos, o direito de reclamar no futuro. Que, bom ou mau, haverá.