O câncer de pulmão é responsável por 13% de todas as mortes por câncer no mundo (OMS, 2016). Apesar do inegável sucesso das campanhas antitabagismo no Brasil, com redução do número percentual de fumantes na população geral, ainda é a principal causa de câncer entre homens e uma das três causas de mortalidade por câncer entre as mulheres.
Com a redução do tabagismo, a ameaça persiste por duas razões: a doença tem uma história natural muito lenta, de tal maneira que quando a lesão atinge 1 cm de diâmetro, já se passaram cerca de 10 anos desde que a primeira duplicação celular anárquica se desenvolveu.
Em segundo lugar, o diagnóstico precoce, que representa a chance verdadeira de cura, ainda é infrequente, pela longa fase silenciosa da doença e pelo perfil emocional do fumante, que tendo se colocado conscientemente em risco (pelo menos ninguém mais diz que não sabia que fazia mal), quando se sente ameaçado resiste a procurar ajuda, numa atitude extremada de negação. Sem considerar os que ungem o cigarro de "um parceiro das horas difíceis".
O abandono do fumo tornou-se uma conquista muito menos heroica do que já foi no passado.
Nos últimos 30 anos, a chance de cura se manteve praticamente estagnada em torno de 20% de todos os casos diagnosticados. Este percentual decepcionante se deve ao fato que a maioria absoluta dos pacientes com câncer de pulmão têm o diagnóstico firmado em fases avançadas da doença, já fora do alcance da cirurgia e limitados a tratamentos paliativos.
Na última década, a quimioterapia mais atuante e menos traumática ajudou a resgatar para o tratamento cirúrgico pacientes com doença localmente avançada, mas sem metástases a distância, e a partir de 2015 surgiu a imunoterapia, que tem mostrado resultados promissores como terapia isolada ou, mais frequentemente, associada à quimioterapia.
Com a experiência mostrando o quanto é pequena a chance de cura de um tumor detectado pelas buscas das causas de sintomas persistentes, a recomendação atual, no mundo todo, é a busca ativa (screening) na população de alto risco, ou seja, pacientes com mais de 55 anos, fumante por mais de 20 anos, uma carteira ou mais por dia. Nesta população selecionada por risco, uma tomografia anual de baixa voltagem aumenta a chance de cura pela descoberta de um nódulo, que se tornaria sintomático somente quando se tornasse intratável.
Os seguintes dados são considerados sugestivos da presença de um tumor, exigindo imediata busca de atendimento médico:
- Escarro com sangue. Não se conforme com hipóteses tolas. Insista com seu médico para realizar uma broncoscopia.
- Mesmo procedimento deve ser feito se uma pneumonia se repetir no mesmo pulmão, em menos de dois anos.
- Se houver persistência diária de tosse depois de já ter expectorado a secreção da bronquite crônica que acompanha o fumante pesado no esforço de limpar o pulmão toda a amanhã.
- Se surgiu uma dor torácica de intensidade crescente.
- Se as suas unhas ficaram arredondadas.
Se você ainda fuma e, sendo inteligente, tem o compreensível constrangimento de anunciar que não consegue parar, procure seu pneumologista. As medidas antitabagismo modernas tornaram o abandono do fumo uma conquista muito menos heroica do que já foi no passado.
Livre-se do risco de um câncer passível de prevenção e fuja do pavor de tentar pôr para dentro um ar que o enfisema não vai permitir.