"O problema do mundo é que as pessoas inteligentes estão cheias de dúvidas, e as pessoas idiotas estão cheias de certezas." (Bertrand Russell)
O que causa estupidez é o conhecimento parcial, que é o que ocorre quando você lê meia dúzia de textos sobre algo e acha que sabe tudo sobre aquilo.
Estupidez não nasce da ignorância absoluta, mas do entendimento falho ou incompleto que é o que ocorre quando você lê apenas o suficiente para confirmar o que já pensava antes.
Que estes dois parágrafos atribuídos a Robert Greene sirvam de acesso ao esforço de compreensão desse sentimento que nos aperta o peito nesses últimos tempos, e que ingenuamente consideramos como um pasmo circunstancial. E que, se é circunstancial, parece razoável que consideremos como eficiente paliativo uma caminhada para refrescar as ideias e interromper estes rompantes catastrofistas.
Todos estão de acordo que, quando começamos a piorar, não paramos mais.
Mas não custa avaliar o quanto essa atitude pacificadora, que beira à alienação, pode ser a responsável para que fatos que constrangeriam, em qualquer época ou sociedade, passem a ser aceitos como banais ou, ao menos, deglutíveis.
Achar que é melhor deixar passar para evitar incômodo é avalizar a perpetuação do absurdo, até o limite da iniquidade, porque todos estão de acordo que, quando começamos a piorar, não paramos mais. E nem vale a pena rememorar os exemplos históricos, porque deles, os bem-intencionados, nunca esquecerão.
Então, aproveitando o ensejo contido neste momento importante para o nosso futuro, quem sabe se, ao invés de caminharmos passivamente para as urnas, com aquele ar ovino dos descomprometidos, tomemos um curto lapso de tempo (e não será necessário mais do que isso) para refletirmos sobre o quanto temos sido responsáveis pelo país, que se tivesse voz humana nos xingaria pela omissão? Porque os minimamente isentos reconhecerão que fazer de conta que está tudo bem é a mais assumida estupidez.
Carlo M. Cipolla, um notável professor de história econômica da Universidade da Califórnia, deu a sua contribuição reconhecendo a estupidez como uma poderosa força maligna, responsável pelo mal estar e infelicidade coletiva. Cipolla editou, recentemente, agora em português, As Leis Fundamentais da Estupidez Humana (editora Planeta, 2020), um clássico publicado pela primeira vez, em italiano, em 1976. Do seu texto, se depreende que a estupidez é mais danosa do que o tráfico de drogas, a escravidão ou qualquer pandemia. Seus efeitos são catastróficos e globais. Ela se encontra em salões de luxo, reuniões de condomínio, comemorações de família e bares de todo o mundo. A sugestão é que cada vez que a incompreensão e a pasmaceira preponderarem, investigue-se por onde a estupidez penetrou a nossa blindagem emocional.
Segundo Tali Sharot, uma brilhante neurocientista israelense, "nosso cérebro está sempre atrás de informações que apenas confirmem nossas convicções". Obcecada por entender como agimos, ela vem estudando a razão do nosso apego às opiniões bizarras, mesmo depois que todas as evidências irrefutáveis apontam para o contrário. Segundo Sharot, predomina a teoria do "viés da confirmação", ou seja, as pessoas buscam confirmar as suas próprias opiniões, e nosso cérebro resiste às evidências contrárias às nossas crenças.
Com fundamentação científica e tudo, ainda vamos precisar de muita paciência para engolir, sem engasgar, que não houve, por exemplo, corrupção e que a devolução do dinheiro, alegadamente desviado, tinha apenas a nobre intenção de contribuir para o futuro do nosso amado país.
Por falar em futuro, responda rápido: se os venezuelanos ingênuos emigraram para o Brasil, nós, deste tamanhão, fugiremos para onde?