Meu encanto por Leo Buscaglia é antigo. Este escritor ítalo-americano, falecido em 1998, aos 74 anos, foi professor na Southern University of California e publicava com regularidade no New York Times, com uma linha editorial baseada no comportamento humano, especialmente sobre o amor e seus desdobramentos. Foi também o pioneiro em criar na universidade um curso específico sobre o tema. E ironizava: “Ao que eu saiba, somos a única escola do país, e talvez do mundo, que tem uma disciplina chamada Amor. E eu, o único professor, louco o bastante, para ensiná-la”.
Há alguns anos, enquanto preparava uma crônica sobre como consolar alguém em sofrimento, pressionado por uma desagradável experiência recente, critiquei as pessoas que não param de falar na tentativa de “distrair” o sofredor da sua perda, ou dão conselhos baseados no princípio da racionalização da morte se a pessoa morreu velhinha, e essas bobagens de quem não entende que a morte será sempre dolorosa, extemporânea e cruel, para quem estiver emocionalmente comprometido. Portanto, nesta circunstância, a tentativa de racionalizar, mais do que inútil, é ofensiva, enquanto que um abraço silencioso muitas vezes será lembrado como consolo inesquecível.
Naquela ocasião, transcrevi, como exemplo, uma historieta em que Leo Buscaglia, tendo participado de um concurso de histórias infantis, se encantou com o relato de um menino de quatro anos que, vendo o vizinho idoso, enviuvado naquela semana, a chorar sentado sozinho num banco de pedra, tratou de pular o muro e sentar-se ao lado dele. No dia seguinte, a mãe, surpreendida por um buque de flores, mandado pelo vizinho como agradecimento, perguntou ao garoto o que ele tinha dito ao velhinho e ele respondeu:
— Nada, eu só o ajudei a chorar!
Desde então, tenho me interessado pelo legado de Leo Buscaglia. E foi assim que encontrei recentemente esta primorosa descrição da morte, com a serena naturalidade do inevitável. E achei que seria muito egoísmo não compartilhá-la:
“... A folha se descobriu a perder a cor, a ficar cada vez mais frágil. Havia sempre frio, e a neve pesava sobre ela. E quando amanheceu, veio o vento, e arrancou a folha de seu galho. Não doeu. Ela sentiu que flutuava no ar, muito calma e tranquila.
E, enquanto caía, ela viu a árvore inteira, pela primeira vez.
Como era forte e firme! Teve certeza de que a árvore viveria por muito tempo, e compreendeu o privilégio de ter sido parte de sua vida. E isso a deixou orgulhosa.
A folha pousou num monte de neve. Estava macio, até mesmo aconchegante. Naquela nova posição, a folha estava mais confortável do que jamais se sentira. Ela fechou os olhos e adormeceu. Não sabia que a folha que fora, seca e aparentemente inútil, se ajuntaria com a água e serviria para tornar a árvore mais forte. E, principalmente, não sabia que ali, na árvore e no solo, já havia planos para novas folhas na primavera”.
P.S.: que 2020 encontre-nos saudáveis e sensíveis à dor do outro, como se ela fosse nossa.