Um cínico só admitiu que dinheiro não traz felicidade para em seguida advertir: o problema é que as coisas que trazem estão cada vez mais caras.
O que não é previsível é quanto o dinheiro e especialmente a busca por ele podem modificar o ânimo e o humor dos que querem conquistá-lo.
Os simplificadores costumam atribuir aos baixos salários todo o problema do desempenho medíocre, mas é um equívoco ignorar que não há estímulo econômico que coloque entusiasmo no que se faça sem encantamento. O mau humor de alguns profissionais bem remunerados e a comovente entrega afetiva de operários que mal ganham para a sobrevivência são a prova de que também nos alimentamos de uma energia maior que nos impulsiona e gratifica. E que, sem ela, nos transformamos em meros colecionadores de ressentimentos.
Muitos gastam a vida no obstinado esforço de enriquecer, atribuindo toda a desventura à falta do dinheiro, o que tantas vezes é apenas um lamento esfarrapado de quem não encontrou o único caminho que impulsiona os honestos em direção à estabilidade financeira: o prazer de fazer o que lhe dá prazer.
Para as pessoas menos deslumbradas, provavelmente a grande maravilha de se ter dinheiro é eliminar qualquer possibilidade de humilhação pelo receio de perder o emprego. A libertação dessa praga, chamada assédio moral, que assola a civilização contemporânea, cada vez mais competitiva, é a primeira conquista verdadeira de quem, tendo dinheiro, desdenha a possibilidade de ameaça de quem está no andar de cima.
Que o dinheiro traz segurança, autonomia, confiança, independência e liberdade, todo mundo sabe. Mas o alto índice de adição em drogas, alcoolismo e suicídio entre grandes empresários sugere que ele não se basta.
Que o dinheiro traz segurança, autonomia, confiança, independência e liberdade, todo mundo sabe. Mas o alto índice de adição em drogas, alcoolismo e suicídio entre grandes empresários sugere que ele não se basta. O circulo virtuoso da fortuna, que começa com o desejo de ter e se soma à determinação de conseguir, só se completa com a convicção do ricaço de que foi o seu jeito charmoso de ser que atraiu os muitos amigos que agora compartilham sua vida.
Ainda que Nelson Rodrigues tenha dito que o dinheiro compra até mesmo o amor verdadeiro, todos sabemos que alguns dos tipos mais amargurados que se possa encontrar estão entre os bilionários que não têm certeza da sinceridade do afeto dos que o rodeiam.
A necessidade da ostentação, certamente a evidência grosseira da insegurança que atormenta os que se sabem menores do que a aparência possa sugerir, é a prova definitiva da diferença abismal entre os ricos verdadeiros e os que só têm muito dinheiro.
Como sempre, o problema continua sendo o que cada um sabe de si quando coloca a cabeça no travesseiro e percebe que seu valor intrínseco como indivíduo não é influenciado pelo preço das ações da sua empresa na Bolsa de Valores.
Provavelmente a mudança de atitude em direção ao humanismo e à solidariedade social dos grandes empresários, ao envelhecerem, coincide com a descoberta de que não há nada que o dinheiro possa comprar que consiga competir com a epifania da gratidão.