Dar opinião é da natureza humana, e todo mundo, se tiver instrumento ou plateia, dá. Não importa se opinião abalizada ou pitaco.
O que falta é constrangimento de opinar, censurando o opinado simplesmente porque não gosta do que foi dito. Também não interessa se o que contrapõe é verdade ou boato ou simplesmente uma fofoca.
A propósito, o professor Tarantino, um dos decanos mais inteligentes que encontrei na Academia Nacional de Medicina, gostava de dizer que a fofoca é a adrenalina do velho, e segundo ele, é a melhor terapia para animar um vozinho meio deprimido. Com as redes sociais, a chance de emitir opinião se escancarou e o senso crítico desapareceu. Os comentários inseridos depois de qualquer assunto são de uma pobreza gigantesca a ponto de suportar, com sobras, a batalha campal entre a chacina da gramática e a atrofia do espírito.
A impressão que se tem é de que as redes estão servindo como prática de desopilação, numa espécie de terapia a custo zero. Algo que lembra as estratégias atribuídas às montadoras japonesas que, inteligentemente, criaram salas de desafogo emocional dos funcionários. Todos os diretores de seção estão representados por bonecos de borracha em réplicas, perfeitas o suficiente, para identificar o canalha do chefe. O funcionário pode acessar o recinto, calçar luvas de boxe e descarregar no protótipo todo o ódio pelos maus-tratos acumulados.
Os comentários são de uma pobreza gigantesca a ponto de suportar, com sobras, a batalha campal entre a chacina da gramática e a atrofia do espírito.
Claro que a intensidade da “represália” serve simultaneamente para avaliação das chefias: os mais agredidos na sala de simulação são chamados para discutir suas atitudes de questionável liderança. Ter em posição de comando alguém simbolizando o desejo máximo de vingança não contribui para o desenvolvimento de nenhuma empresa.
Gosto de responder aos que se dão ao trabalho de comentar o que escrevo, e procuro não deixar ninguém sem resposta, até porque a divergência eventual é sempre construtiva. Entre os que elogiam, estão uns queridões que enxergam virtudes insuspeitadas e fazem um bem danado para o coração da gente. Outros são mais parcimoniosos na reverência e fazem questão de esclarecer que não são leitores frequentes (ao contrário da mãe e da esposa), mas gostaram daquela crônica, e são igualmente gentis e estimulantes. O impulso de escrever sobre “os tipos soltos por aí” não brotou desses delicados que opinam com consistência e divergem com respeito. Não. Longe disso. Inspirou-se em alguns incautos, que algumas vezes usando um linguajar rebuscado (como a anunciar que não estás a falar com qualquer um!), destilam todo o rancor reprimido durante uma vida inteira, e que dispensam formação psicanalítica para serem reconhecidos como um poço de infelicidade e frustração.
A tática mais comum é reescrever a crônica que pretendeu criticar, com ideias que ele considera mais arejadas e inteligentes, aproveitando para reforçar que o autor não passa de um covarde e um frouxo que não foi capaz de assumir posições politicamente incorretas por falta de coragem, este atributo que visivelmente sobra no contestador. É curiosamente hilária a escolha dos codinomes, onde desfilam o Destemido, o Sem Papas na Língua e o Gostou, Gostou!, todos com a clara intenção de anunciar o valentão sem endereço, que se supõe irresistivelmente interessante. Um deles envelheceu tão sem senso de ridículo que postou uma foto de identificação em que oferece a ereção do terceiro dedo como seu estandarte. Uma tristeza, com a única justificativa de ilustrar a liberdade de expressão. Quando construtivo mesmo seria a generosidade do silêncio.