Os casos de racismo e fascismo envolvendo alunos, em duas escolas particulares (Farroupilha e Israelita) de Porto Alegre, não podem ser vistos como casos isolados. As instituições privadas precisam repensar estratégias pedagógicas e preventivas para evitar que novos episódios violentos como esses se repitam.
Segundo o Ministério Público, a conduta dos alunos pode refletir a conduta das famílias em casa. E de fato pode mesmo. Dei aulas em escolas públicas e particulares em Porto Alegre por mais de 15 anos. Em todos esses anos, presenciei os mais diversos problemas envolvendo alunos e familiares. E a conclusão a que cheguei é a de que a influência da família impacta fortemente no sucesso ou no fracasso escolar.
As notas de repúdio das duas instituições reforçando o compromisso com práticas democráticas foram importantes, assim como as medidas legais para apurar e punir, mas todas essas medidas ainda não são suficientes para impedir violações futuras.
É preciso um trabalho contínuo de formação ética, moral e afetiva. Punir pode ser um tipo de educação, mas precisa ser acompanhado de outros instrumentos subjetivos e pedagógicos. E nesse processo, a parceria com pais e familiares é importante. O resultado das eleições não pode servir como desculpa para tais atitudes.
Há um discurso de que a escola é uma espécie de ensaio para vida. Pode ser. Mas também defendo que a escola é a própria vida. Isto é, a vida não para enquanto os alunos aprenderem o que é certo ou errado. A escola é um microcosmo que reflete o sentimento social. Por isso, a educação preventiva é importante.
Porque casos como esses não são frutos de um rompante fascista pontual. Pela maneira como as declarações foram feitas, o problema é anterior. Ou seja, a violência me parece que já estava instalada e, muito provavelmente, esses alunos já deram sinais de condutas preconceituosas e racistas em outros momentos. O vídeo dos alunos da escola Israelita ainda chama atenção pela certeza da impunidade, de que se pode dizer qualquer coisa e de que nada irá acontecer. A crueldade dos ataques serve como alerta para educadores e pais.
Mais do que educar alunos para uma vida profissional e acadêmica, a escola precisa educar para a convivência em sociedade. Porque ninguém nasce cidadão, torna-se um. Mas para se tonar um cidadão é necessário um ensino integrado com as famílias, num ambiente em que a ética e a alteridade sejam valores inegociáveis.