Um vídeo de estudantes do Colégio Israelita Brasileiro fazendo comentários preconceituosos gerou repercussão nas redes sociais. Os alvos dos jovens são eleitores do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nordestinos, pobres e professores de escolas públicas, entre outros. Em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente, eles não são identificados nesta reportagem.
A instituição particular emitiu nota de repúdio nesta sexta-feira (4). "Nos solidarizamos com todas as pessoas que foram e se sentiram ofendidas", diz o texto.
O Ministério Público (MP) informou que recebeu denúncia e instaurou procedimento para investigar o caso. A promotora Regional da Educação de Porto Alegre, Ana Cristina Ferrareze, expediu ofício solicitando que a instituição informe, em 48 horas, se tem conhecimento dos fatos, quais eventuais providências adotadas e identificação dos adolescentes envolvidos. Além disso, a promotora encaminhou os casos ao Núcleo do Ato Infracional do MPRS – Ciaca, Promotoria de Justiça da Infância e Juventude – Núcleo Articulação/Proteção.
Os comentários dos alunos foram feitos durante transmissão virtual que acabou sendo gravada. Não é possível identificar a data da gravação. Uma adolescente começa o vídeo falando:
— Ele (Jair Bolsonaro) gera empregos, ele dá para vocês empregos, para vocês terem a oportunidade de serem a gente — diz, dando risadas.
Quando os estudantes falam sobre a situação das crianças do Nordeste, onde Lula venceu em todos os nove Estados, um dos alunos faz um xingamento explícito ao povo nordestino:
— Todo nordestino deveria tomar no c*.
Ao serem alertados para terem cuidado com o que falam, uma das estudantes responde:
— Vão mostrar para quem? Para a professora que faz greve a cada duas semanas no colégio público deles? Pelo amor de Deus!
Ao receber uma crítica, a mesma aluna diz:
— Não vem reclamar quando meu pai te demitir.
Em contato com a reportagem, a assessoria do Colégio Israelita informou que uma comissão irá decidir, na próxima segunda-feira (7), qual penalidade estes estudantes irão receber. Já a assessoria do Ministério Público destaca que a Promotoria Regional de Educação de Porto Alegre recebeu o vídeo dos estudantes e pediu informações à escola, como a identificação dos alunos e se o vídeo foi feito nas dependências da instituição.
A reportagem tenta contato com os adolescentes que aparecem no vídeo e suas famílias.
Leia, abaixo, a íntegra da nota do Colégio Israelita:
O Colégio Israelita Brasileiro traz a público seu firme repúdio a manifestações com teor discriminatório e preconceituoso praticadas por alunos desta instituição. Nos solidarizamos com todas as pessoas que foram e se sentiram ofendidas.
Estas ações em nada refletem nossos princípios filosóficos e nossa prática pedagógica. Nenhuma escola é uma ilha. Estamos inseridos em uma sociedade que se encontra em parte contaminada por dinâmicas disfuncionais. Mas vamos agir.
O discurso de ódio não será tolerado. Dentro da legislação e dos nossos regulamentos, serão aplicadas as penalidades cabíveis. No entanto, muito mais do que punir, sabemos que nosso papel é educar e formar seres humanos capazes de colaborar para a evolução da sociedade.
O CIB, ciente da gravidade do momento que estamos atravessando, compromete-se a usar da melhor maneira as ferramentas que possui para pôr em prática um programa ativo de resgate das boas relações e da ética. Estas ferramentas são nossos valores, nossa capacidade educadora, nossa crença na tolerância e na convivência entre diferentes.
Estamos atentos. Estamos mobilizados. Em conjunto com nossa comunidade escolar, temos certeza que faremos nossa parte para superar esta situação e que aprenderemos todos com ela."