A quinta temporada da série Sessão de Terapia, exibida no Globoplay e dirigida por Selton Mello, comprova a necessidade que temos em narrar nossas pequenas tragédias cotidianas. Com atuações primorosas de Rodrigo Santoro, Christian Malheiros, Letícia Colin, Luana Xavier e do próprio Selton, a série reflete o quanto o peso de viver nos fragiliza.
Entre os vários pontos positivos da série há a naturalização de pessoas negras em diversas situações que não sejam sempre numa posição subalterna, e mesmo quando tais questões aparecem, o assunto é tratado com delicadeza e profundidade, caso do motoboy, interpretado pelo excelente Christian Malheiros. Ou ainda momentos tocantes interpretados por Luana Xavier.
Há também uma tentativa da série em tornar a psicanálise menos elitista e mais inclusiva. O que me parece um grande ganho da produção. A modernidade avassaladora nos obrigou a ter um tempo reservado na agenda para falarmos de nós mesmos. Narrar para um terapeuta é narrar para si mesmo.
Ainda que não estejamos num período pós-pandêmico, precisaremos de um tempo todo nosso para avaliar esse trauma coletivo. Pois a pandemia chegou de repente e nos atropelou. No entanto, a vida seguiu. Pessoas se casaram, outras se separaram, tiveram filhos. Perderam amigos e parentes. Mudaram de cidade e de trabalho. A vida seguiu. A vida sempre segue. E por isso precisamos falar sobre ela. Talvez o mais importante da série é revelar o quanto precisamos cuidar de nós mesmos.
O cuidado de si é um aprendizado.
E isso nada tem a ver com egoísmo. Nada tem a ver com aquela frase “eu mereço essa roupa cara”. Prestar atenção em si é uma postura ética. Cuidar de si e lidar com os próprios fantasmas é uma das melhores contribuições que podemos oferecer à sociedade. O poeta Paul Valéry disse certa vez que: “Deve-se entrar em si mesmo armado até os dentes”. Talvez o papel da psicanálise seja o de nos desarmar, e assim podermos nos ver sem tanta culpa, sem tanta cobrança e reconhecendo nossas fragilidades, porque é isso que nos fortalece.