“A gente tá sendo atacado.” A frase é do personagem Lunga, interpretado pelo ator Silvero Pereira no filme Bacurau, lançado em 2019 e dirigido por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles. Para quem não viu, Bacurau narra a história de uma cidade que é atacada por atiradores estrangeiros e que têm o intuito de matar pessoas por esporte.
Entre os atiradores está um casal de brasileiros e que chegam à cidade disfarçados de turistas. Em uma das cenas mais emblemáticas, durante uma reunião com os estrangeiros, os personagens brasileiros dizem que são do sul do país, descendentes de italianos e alemães, portanto são brancos, iguais a eles. Os estrangeiros se olham, riem e debocham do casal, pois não reconhecem essa equiparação racial. São tratados como latinos, como brasileiros de modo pejorativo.
Podemos aprender com Bacurau no que se refere às dinâmicas sofisticadas e perversas do racismo. Compreender que, para os movimentos ultradireitistas e neonazistas, pessoas brancas, com ascendência europeia, no Brasil, são, antes de tudo, latinas, portanto não se equiparariam a eles. Os sulistas devem ter consciência disso.
O protesto de bolsonaristas, no último dia 21, no bairro Moinhos de Vento, trouxe um sujeito fantasiado de membro da Ku Klux Klan, uma espécie de arremedo e uma alusão à organização norte-americana que pregava morte às pessoas negras. Tal aparição de um personagem macabro no Rio Grande do Sul não é mera coincidência, mas um reflexo de que o Estado não soube e não sabe lidar com seu racismo. A bancada negra da Câmara de Vereadores de Porto Alegre registrou uma ocorrência na delegacia, e o caso está sendo investigado.
O reconhecimento das estruturas racistas no Estado é o primeiro passo para enfrentar o racismo. O racismo não é um problema dos negros. É um problema de todos. É preciso união, solidariedade e diálogo entre brancos e negros, mas também é necessário punição para as pessoas que insistem em ideais racistas.
Sim, “a gente tá sendo atacado”, como diria Lunga, mas também sabemos resistir e agir.