Desde que assumiu a Presidência, Lula e os seus puxadores de saco mais excitados vêm repetindo sem parar que o pior problema do Brasil é a taxa de juros — e que o maior culpado pelos problemas da economia brasileira é o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Não fossem os juros e Campos Neto, a economia do Brasil estaria voando.
Não é nenhuma surpresa. Lula, há 40 anos, não respira sem um judas para culpar pelos desastres causados por sua inépcia, ignorância e, mais do que tudo, uma preguiça terminal. No caso, escolheu como bode expiatório um servidor público que já estava no governo de Jair Bolsonaro, e que continuou na presidência do Banco Central por força da lei. Lula queria botar o homem na rua, como se fosse um empregado da sua casa. Não deu, é claro, mas o presidente da República, num ataque particularmente baixo às regras do jogo, passou todo seu governo pedindo a cabeça de Campos Neto.
Lula, há 40 anos, não respira sem um judas para culpar pelos desastres causados por sua inépcia, ignorância e, mais do que tudo, uma preguiça terminal
No oceano de nulidades que ocupam os quase 40 ministérios de Lula, Campos Neto tornou-se o responsável direto pelo combate bem-sucedido à inflação e à desordem monetária, que, se não fosse por sua competência, já teriam mandado o Brasil para a vara de falências. Lula fica doente com essas coisas. A única área do seu governo que dá certo é a única em que ele não pode mexer.
Como de costume, o presidente lidou com a sua contrariedade jogando tudo na mentira. Já que não podia demitir Campos Neto, de um lado, e nem fazer nada de útil em seu governo, de outro, passou a dizer que a taxa de juros do BC era um crime contra os brasileiros mais pobres e um ato de sabotagem contra “o crescimento da economia”. Nunca foi nada disso.
Os juros foram mantidos nos níveis em que estiveram nos últimos 18 meses para combater a inflação que Lula atiçava com a sua irresponsabilidade perante o gasto público e com a demagogia fundamental dos seus discursos. Durante toda a gestão de Campos Neto, os juros estiveram abaixo dos níveis mais elevados dos governos anteriores do próprio Lula.
O Banco Central nunca aumentou os juros desde que Lula assumiu o seu cargo — ou baixou, ou deixou no nível em que estavam. Mas, agora, o mandato do presidente está acabando, e já há outro escolhido 100% por Lula para ocupar sua cadeira. Acontece o quê, então? Os juros foram aumentados pela primeira vez no governo Lula. É exatamente o contrário de tudo o que Lula vem pregando ferozmente — mas obviamente ele não deu um pio de protesto. Os juros, a partir de agora, são de sua responsabilidade. Deixaram de ser um crime “da Faria Lima”. Vão ser uma arma na defesa das causas populares.