As notícias no campo da segurança pública são boas. As estatísticas mostram queda de 12,4% no número de homicídios no Rio Grande do Sul em julho, na comparação com o mesmo mês do ano passado. E redução de 2,8% no semestre, se comparado com o mesmo período de 2021.
A verdade é que os assassinatos vêm diminuindo de intensidade há cinco anos no RS. Após o banho de sangue e cabeças cortadas de 2016 e 2017, a matança recuou, por vários fatores, a começar pelo esforço dos governos José Ivo Sartori e Eduardo Leite em concentrar efetivos policiais nos lugares mais violentos. Do expurgo de lideranças criminosas para outros Estados, em prisões de segurança máxima. Do monitoramento de veículos suspeitos por meio do cercamento eletrônico feito por câmeras de vigilância nas vias. E até de discretas divisões de territórios entre chefias de facções, no sentido de evitar derramamento de sangue e prejuízo a seus negócios (algo que as autoridades não gostam que seja dito, mas que existe no submundo).
O grande problema do momento é o feminicídio. Conforme mostra reportagem da colega Bruna Viesseri, o semestre teve alta de 17,2% nos casos, em relação ao mesmo período de 2021, e de 11,1% no mês passado, se comparado com julho de 2021.
Das 10 mulheres mortas em julho, três contavam com medida protetiva de urgência. Ou seja, já haviam relatado ameaças e/ou agressões praticadas por seus ex-companheiros. Pediram às polícias garantias de vida. Acabaram morrendo.
Antes que alguém considere o Estado omisso, é preciso ressalvar que este tipo de crime é de mais difícil prevenção do que o praticado pelas quadrilhas. A violência contra mulheres costuma começar entre quatro paredes, dentro de casa. Existia até um ditado, totalmente equivocado, que pregava: "Em briga de marido e mulher ninguém mete a colher". Errado. É preciso interferir, sim. Ou a matança continuará.
É difícil porque não há como designar um policial para proteger cada mulher ameaçada. É difícil porque a violência costuma acontecer num domicílio, não na rua. Porque o agressor, muitas vezes, finge procurar a vítima para pedir perdão ou para visitar um filho - e aproveita a oportunidade para assassinar. Várias iniciativas ajudam a proteger o segmento feminino, a começar pelas Patrulhas Maria da Penha (da BM) e Delegacias da Mulher (da Polícia Civil). Mas é importante que as mulheres registrem as ameaças e agressões sofridas. E pressionem as autoridades a agir, quando o assédio não cessa. É um crime que continua a desafiar as autoridades, por toda a complexidade que envolve o cenário do amor que se transforma em ódio.