O duplo assassinato registrado no final da manhã desta terça-feira (2), na zona norte de Porto Alegre, é hollywoodiano, quase um tributo aos faroestes cafonas e filmes de gângsteres kitch de Quentin Tarantino. O trio de assassinos abre as portas de um carro ainda em movimento, com armas na mão, e atira com as pistolas até esvaziar os pentes. Nada parece importar, a não ser a morte dos alvos. Morreram dois. Poderiam ser muito mais, como mostra o vídeo gravado por câmeras de vigilância.
Na manhã aprazível de inverno e sol a pino, dezenas de pessoas perambulavam pela Avenida Irmão Faustino João, uma das principais do Loteamento Timbaúva, no bairro Mario Quintana. É uma área tão pobre quanto movimentada, contígua a um dos maiores bairros de Porto Alegre, o Rubem Berta. O movimento no comércio atrai também tudo que vive de parasitar o alheio, os assaltantes e traficantes.
Os assassinos tinham alvo certo. Os dois homens mortos colecionavam antecedentes criminais por tráfico e outros quesitos. Mas tudo indica que os matadores não perderiam a viagem. Caso errassem, os tiros poderiam sobrar para quem nada deve. Para o leitor ter uma ideia, um dos criminosos entrou a passo dentro de uma padaria e executou um dos homens ali, em frente a diversos frequentadores. Os outros criminosos dispararam dezenas de tiros em plena rua. É possível ver gente que esperava ônibus numa parada correndo desesperada. Até um cachorro sai em disparada. Há pelo menos um salão de beleza e uma loja de informática nas proximidades.
Chega a ser comovente o esforço de um dos homens para não morrer. Ele corre, é atingido, cai, levanta, cai de novo, rola de um lado para outro no chão. Até levar os tiros de misericórdia, executado. Fica deitado ali mesmo, com a mão, segura no boné.
Quase milagre que não tenham sido atingidos outros, além dos dois que acabaram mortos. Os atiradores parecem não ligar. Tinham uma missão, provavelmente ordenada de dentro dos presídios, e decidiram cumpri-la, não importa os efeitos colaterais que pudessem causar. Mortes de inocentes, no caso.
A cena final é também cinematográfica. O motorista do carro dos assassinos arranca devagar, de portas abertas, à espera de um retardatário. O assassino que ficou para trás faz três disparos (que mataram um sujeito dentro da padaria), sai correndo e alcança o automóvel na corrida. Fosse ficção, achariam que é exagero. Não é. Mais um dia em Porto Alegre. Ainda bem que não tão frequente como em outros anos.