A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Encerrado o plantio da soja no Rio Grande do Sul, depois de atrasos no calendário e de contratempos climáticos, agora é a comercialização do grão que preocupa os produtores. A cotação da oleaginosa chegou neste janeiro ao menor patamar de preço registrado desde 2020. E não tem projeção de grande melhora, mesmo com a recuperação de alguns estoques.
O cenário de preços ocorre logo quando a produção gaúcha aponta para padrões de normalidade e tende a ser positiva depois dos últimos anos de frustrações de safra. Também há indicativos de recuperação na Argentina, importante player no mercado global. Mas há incertezas em relação ao centro-oeste brasileiro, maior produtor nacional, que deve ter quebra. Sem falar no apetite chinês pelo grão, que se encaminha para reduzir a demanda. Tudo isso influencia nos preços praticados.
A desvalorização atinge outras commodities e não está restrita aos grãos. Na carne, o preço do boi pago ao produtor reduziu 40% em relação ao ano passado no Rio Grande do Sul.
Os preços “desceram ladeira abaixo”, diz o presidente da FecoAgro/RS, Paulo Pires:
— Praticamente todos derreteram. A saca de soja está valendo, em média, R$ 115 nas cooperativas. O milho praticamente caiu pela metade em relação ao que foi praticado na safra passada e o trigo, além da frustração de safra, caiu para R$ 62 a saca, quando no ciclo anterior passava de R$ 100. Isso tudo mesmo com a queda nos insumos, porque a desvalorização prejudica a renda do produtor.
O copo meio cheio, diz o dirigente, é que ao menos a oferta de soja por parte do Rio Grande do Sul tende a ser positiva. Até março, o clima é bastante decisivo para o grão e há boas expectativas quanto a isso nos meses que se tem pela frente até a chegada da colheita.
Levantamento elaborado pela Rede Técnica Cooperativa (RTC/CCGL) mostra que há variações de produtividades que vão de 40 a até 65 sacos por hectare em regiões relevantes para a produção. A diferença está na abrangência das chuvas: há locais onde as precipitações foram uniformes e outros onde faltou água para o um potencial produtivo alto.
Cerca de 80% das áreas de soja estão em fase de germinação e desenvolvimento vegetativo no Estado. A estimativa da Emater para a safra 2023/2024 é de 6.745.112 hectares plantados, com perspectiva de produtividade em 3.327 kg/ha.