A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
A conjuntura trazida pela combinação de clima e mercado abre um panorama diferente para a habitual dobradinha entre a soja e o arroz nas áreas de várzea do Rio Grande do Sul. Depois de oito safras em expansão, o grão dourado deve perder espaço para o produto da cesta básica no sistema de rotação entre as culturas. E esse movimento pode ampliar o percentual de avanço da área do cereal em relação à projeção inicial, estimou a Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), em balanço realizado nesta terça-feira (12).
— Daqui a pouco a área de arroz pode chegar a 910 mil hectares, porque algumas lavouras de soja na várzea não poderão ser plantadas — explica Alexandre Velho, presidente da entidade.
Na primeira projeção de plantio da safra 2023/2024 de arroz, o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) apontou um cultivo de 902,42 mil hectares, alta de 7,5% em relação ao semeado no ciclo anterior. Diante do excesso de chuva sob o efeito do El Niño e com a saca do arroz a R$ 127,38 (segundo dado do dia 11/12 do Cepea, da Esalq/USP), muitos produtores decidiram deixar a soja em segundo plano.
— A soja é muito mais sensível do que o arroz para o excesso hídrico, e, em áreas de inundação, o produtor não vai arriscar com a soja. Teremos área semeadas perdidas e talvez não replantadas. E o preço do arroz, que acaba influenciando na decisão — avalia Flávia Tomita, diretora técnica do Irga, em relação ao espaço da oleaginosa.
Já na largada, projetava-se uma redução de 1,77% na área da soja em rotação com arroz, o que representa quase 9 mil hectares a menos (somando 497 mil hectares). Previsão embasada no preço atrativo do cereal que, de lá para cá, engatou uma valorização. A isso, somou-se a chuva em excesso, o que traz a tendência de que esse recuo da soja na várzea seja ainda maior.
O presidente da Federarroz reforça, no entanto, a importância da rotação das duas culturas:
— Melhora as condições do solo, para quando voltar com o arroz obter produtividades altas e enfrentar o alto custo de produção.
No balanço da Federarroz, também foi projetada uma queda de 5% a 10% na produtividade da safra em razão das condições climáticas trazidas pelo El Niño, com uma produção total no Estado perto das 7 milhões de toneladas. Com custo de produção 5% menor e preços acima dos R$ 100 a saca de 50 quilos, o dirigente estima também uma safra rentável, apesar das perdas pela chuva.
— Com ajuste na oferta, a exportação trouxe uma referência de preços ao mercado interno — justifica Velho.