Só mesmo a entrada da nova safra, primeiro a de países do Mercosul e, depois, a brasileira, tem chance de mudar a trajetória dos preços do arroz. Levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea, da Esalq/USP) em parceria com o Instituto Rio Grandense de Arroz (Irga) aponta que a saca de 50 quilos fechou ontem a R$ 123,63. É uma renovação do recorde nominal que tem sido diária. Até onde deve ir essa valorização é uma pergunta para a qual não se tem resposta. Pelos ingredientes postos, no entanto, a estimativa é de que há sustentação para a alta pelo menos até a colheita, quando novos volumes passam a ser adicionados aos estoques.
O clima tem exercido neste momento um papel complementar a esse aumento, avalia Evandro Oliveira, consultor de mercado de arroz e feijão da Safras & Mercado.
- O principal é o aperto na oferta - reforça.
A consultoria trabalha com um estoque de passagem (volume que "fica" até a entrada da nova safra) de 700 mil toneladas de arroz, considerando o ano comercial (que vai de março deste ano a fevereiro de 2024). Com o atraso no calendário de plantio no Estado - segundo o Irga, o cultivo chegou a 82,4%da área total -, a perspectiva é de um deslocamento também de parte do período de colheita. Cria-se uma perspectiva de alongamento da entressafra, ingrediente que traz condições para a valorização se manter até a nova colheita, em meados de fevereiro e março. Pouco antes disso, deve entrar um pouco da produção do Paraguai.
- O varejo, que estava a todo custo tentando não passar esses reajustes, agora está se vendo obrigado, porque não está tendo como suportar. Vai gradualmente repassando - pontua Oliveira.
Diretor comercial do Irga, Ailton dos Santos Machado também entende que a alta deve persistir até a colheita.
- Vários eventos mundiais acabaram levando para esse momento de agora. Essas condicionantes, aliadas ao baixo estoque - completa o dirigente, sobre os motivos da elevação.
Diretor-executivo do Sindicato das Indústrias de Arroz do RS, Tiago Barata reforça que "o preço alto de hoje é consequência do preço baixo de ontem". A desvalorização e a baixa viabilidade econômica fizeram a área encolher.