Enquanto no Rio Grande do Sul é o excesso de chuva e a combinação de umidade e calor que deixam produtores em alerta, no Brasil Central é a estiagem que afeta as lavouras, incluindo a do maior produtor nacional, o Mato Grosso. A Associação dos Produtores de Soja de lá (Aprosoja-MT) fez uma pesquisa que indica redução de 21% na colheita. As 35,75 milhões de toneladas projetadas agora representam 9,5 milhões de toneladas menos do que o volume colhido em 2023. Conforme a entidade, o dado reflete a realidade de 1.003 propriedades, que somam mais de 1,7 milhão de hectares com o grão — 14,5% da área total cultivada em território mato-grossense.
Os números trazem uma perspectiva de perda mais intensa do que a do levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A safra do MT está estimada em 40,2 milhões de toneladas. A do país, em 155,3 milhões de toneladas, recuo de 4,2% sobre o dado inicial, mas ainda um recorde.
Em Campo Novo do Parecis, no interior do Mato Grosso, é a primeira vez que a fazenda do produtor Ricardo Arioli Silva tem perda por seca:
— E é difícil fazer prognóstico de queda. Meu irmão estima que vai ser de 20% (de 65 sacas/ha).
Em seu relatório, o órgão cita também sobre a soja que “os extremos climáticos, provocados pelo fenômeno El Niño, com excesso de precipitações na Região Sul e escassez de chuvas no restante do país, têm desafiado os produtores rurais na implantação e na realização dos tratos”.
Ao avaliar os prognósticos deste momento (para grãos como um todo), o superintendente de Informações da Agropecuária da Conab, Aroldo Antonio de Oliveira Neto, ponderou que a atual safra é “uma das mais complexas para a estimativa de área, produtividade e produção nos últimos tempos.”
— As dificuldades podem ser resumidas nos problemas climáticos, que geram incertezas e prejudicam a tomada de decisão pelos produtores — completou
Presidente da Aprosoja-MT, Lucas Costa Beber pontuou que os dados oficiais vão na contramão também de outras consultorias e falou na necessidade de atualização das metodologias da Conab:
— Não tem correspondido com nenhuma das empresas que fazem esse tipo de pesquisa e análise do campo no Brasil.
Os problemas climáticos fizeram com o calendário de plantio de soja fosse ampliado em sete Estados. Importante lembrar que o Brasil é o maior produtor e exportador do grão: o que acontece aqui na safra traz repercussões globais.